Em causa comentários depreciativos no Facebook contra africanos, a orientação sexual e a covid-19.
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O reitor da Universidade de Aveiro revelou, na segunda-feira ao JN, ter ordenado a abertura de um processo de inquérito a um professor do Departamento de Física da instituição, pela publicação, nas redes sociais, de mensagens de teor "discriminatório", com a qual a instituição "não pactua".
Paulo Jorge Ferreira respondia a propósito de uma denúncia da organização Quarentena Académica de que o docente Paulo Lopes "assume um discurso de ódio contra vários sectores mais fragilizados da nossa sociedade nas suas redes sociais" e "ainda posições negacionistas sobre a pandemia de covid-19".
A organização "considera inaceitável que uma instituição pública seja tolerante e conivente com os seus docentes que assumam, aberta e publicamente, discursos que violam a Constituição da República e nos mais elementares valores democráticos", sustenta.
O perfil público de Paulo Lopes no Facebook não apresenta mensagens públicas desde 30 de dezembro e as "discriminatórias" foram publicadas até julho.
"Aquela preta julga que a cor da pele lhe dá o direito de ser agressiva e selvagem", escreve, ao partilhar uma notícia sobre uma mulher acusada de morder um polícia (a 22 de janeiro). A pretexto da detenção de suspeitos da morte do estudante cabo-verdiano Luís Gionavi, acusa a Imprensa de não dizer "que foi um ataque racista e um crime de ódio", porque "o bando assassino era de ciganos!!!!!!!" (a 8 de junho).
"Irei até ao fim"
Entre as mensagens de teor negacionista, escreve, por exemplo: "Serei eu o único à face da Terra a perceber que as quarentenas e isolamentos sociais servem... de RIGOROSAMENTE NADA???" (a 21 de abril).
Comentando a evocação do cantor António Variações no mês do orgulho LGBTI+, interroga: "Orgulho em ser-se doente e pervertido???" (a 29 de junho). Três dias antes, comenta a polémica sobre série "Destemidas": "Promover desvios comportamentais, aberrações humanas e perversões devia dar direito a muitos anos de cadeia".
O reitor da Universidade assegurou, ao JN, nunca ter tido qualquer queixa de alunos, professores ou funcionários no interior da instituição. Mas, desde que a questão foi suscitada nas redes sociais - onde circulam denúncias - considerou que deveria agir, "porque nenhuma espécie de discriminação é tolerável".
"Irei até ao fim", pois a "a Universidade de Aveiro rejeita categoricamente qualquer discurso discriminatório", disse Paulo Jorge Ferreira. Questionado sobre se a instituição pode interferir no campo da liberdade de expressão dos docentes fora da universidade, esclareceu: "Tenho de inquirir para averiguar os factos, pois pode haver matéria disciplinar".
De acordo com o reitor, já está nomeada uma inquiridora, mas o docente ainda não foi notificado. O JN tentou ouvir o visado, por telefone e por correio eletrónico, mas não obteve resposta em tempo útil.