Rui Rui apelou este domingo no encerramento da reunião magna do partido, em Viana do Castelo, que os partidos sejam "mais comedidos nas promessas e mais preparados na ação". "Menos fazedores de notícias e mais construtores de soluções", apelou o líder social-democrata, desafiando o Governo para duas reformas.
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No arranque do discurso, o líder do PSD insistiu naquela que tem sido a sua mensagem: a importância do diálogo entre os partidos políticos, tendo deixado um cumprimento especial à delegação do CDS-PP, chefiada pelo líder Francisco Rodrigues dos Santos, que partilhou com o PSD a governação do PSD em diversos momentos, "alguns deles bem difíceis".
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"Se estamos todos pelo bem de Portugal então saibamos, sempre que possível, unir esforços em prol do interesse nacional", reconhecendo que é "imperioso" aos partidos, mostrarem as suas diferenças para que as escolhas dos cidadãos sejam esclarecidas e conscientes, mas que não ficcionem e inventem diferenças, "construindo barreiras que na prática não existem". "Só estamos a prejudicar esse mesmo interesse nacional".
Depois, Rui Rio focou o discurso no ataque ao Governo de António Costa. "Adiar reformas, varrer os problemas para debaixo do tapete e fazer o discurso de que tudo está bem, como é timbre da atual governação, não é uma postura responsável nem adequada", disse, acusando o Governo de ter pouca predisposição para reformar.
"Um Governo que não reforma e que se limita a gerir a conjuntura, é um Governo que não está preparar o futuro. Faz uma gestão meramente conjuntural que atualmente se identifica, desde logo, no modelo de crescimento económico que tem vindo a ser adotado", insistindo que "o caminho afigura-se ainda mais errado".
"Por força da ala mais extremista do PS e a sua união de facto com os partidos da Esquerda mais radical, o país voltou a ter o consumo privado como principal motor do crescimento económico", disse, vaticinando que esta estratégia é uma estratégia errada.
Ambição poucochinha e cativações extremas
"Dito de outra forma, com esta governação os portugueses podem ter alguma ambição, desde que ela seja poucochinha . "Os portugueses poderão ter aumentos salariais de 0,5% ou 0.7% mas nunca terão aumentos que os catapultem para os padrões de vida europeus", defendeu o líder do PSD.
"A eliminação do défice público, que este ano vai ser atingida e que naturalmente aplaudimos, foi no entanto conseguida, não à custa de qualquer reforma na estrutura da despesa, mas à boleia da atual política monetária do BCE, de um permanente aumento de impostos e de uma política de cativações levada ao extremo".
O líder social-democrata apontou depois várias áreas da governação que estão a dar sinais de "degradação": um Serviço Nacional de Saúde (SNS) sem "um rumo", precisando acima de tudo de "gestores mais competentes e menos ligados à lógica partidária"; os transportes e a segurança, que estão a acusar a "forte quebra do investimento"; e apontou a "falta de planeamento de recursos humanos" na Educação com escolas sem conseguirem funcionar por falta de pessoal auxiliar e professores.
Preocupado com a baixa natalidade, o líder do PSD reafirmou as propostas que já apresentou para incentivas as famílias a terem mais filhos e defendeu "um pacto político abrangente" na área das políticas de descentralização, de apoio ao Interior e à demografia.
"Não é aceitável deixar uma parte substancial do país a definhar económica, social e demograficamente".
Reformar a política e a justiça
A última parte do discurso de Rui Rio foi dedicada a insistir na necessidade de "duas importantes reformas": a revisão do sistema político e a reforma da Justiça, disse, insistindo em bandeiras que têm sido sempre suas: repensar a forma de eleger os deputados e os executivos municipais, limitar o número de mandatos no Parlamento, reduzir moderadamente o número de deputados e alterar a composição da comissão de ética da Assembleia da República de modo a evitar conflitos de interesse.
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Na Justiça, lembrou a falta de confiança dos portugueses no sistema e apontou vários problemas: investigações que se arrastam penosamente no tempo, sem que os prevaricadores sejam punidos; a opacidade do seu funcionamento; o corporativismo prevalente, a morosidade na maioria dos processos, a devassa de processos judiciais na comunicação social; a incapacidade técnica para lidar com processos mais complexos; ou a arrogância no comportamento de muitos dos seus agentes, insistindo na importância de "uma reforma alargada da Justiça"..
Não o fazer será permitir que os alicerces do regime "continuem a enfraquecer", disse, voltando a criticar o Governo pelo recente aumento dos salários dos magistrados, "em que mostrou que não tem grande problema em ser fraco com os fortes e forte com os fracos".
A fechar, Rio voltou a mostrar disponibilidade para entendimentos: "o PSD esteve e continuará a estar disponível para encontrar pontos de entendimento com os outros partidos", disse, quase passando por cima do processo eleitoral interno que culminou neste congresso. No fim do discurso, deixou os únicos recados para dentro: "Na história do Partido Social Democrata muitos saíram com honra e com glória. Saibamos nós seguir esses exemplos e servir Portugal como eles serviram".