Santos Silva promete "imparcialidade": "O único discurso sem lugar será o do ódio"
Embora nunca tenha mencionado explicitamente o Chega, o novo presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, usou o discurso de tomada de posse para fazer marcação cerrada ao partido de André Ventura. "O patriotismo só medra no combate ao nacionalismo", frisou. Foi ovacionado de pé pela bancada do PS e aplaudido por muitos sociais-democratas.
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"O patriota, porque ama a sua pátria, enaltece o amor dos outros pelas pátrias respetivas", frisou Santos Silva, no Parlamento, após enaltecer a "natureza pluricêntrica" da língua portuguesa. Já o nacionalista, pelo contrário, "odeia a pátria dos outros, discrimina quem é diferente e, em vez de hospitalidade, promete ostracismo", comparou.
"O bom requisito para não ser patriota é não ser nacionalista, isto é, não ter medo de abrir fronteiras e acolher refugiados", prosseguiu o novo presidente da Assembleia da República, recebendo aplausos dos deputados socialistas.
Santos Silva não cessou de traçar um cordão sanitário em torno do Chega: "O único discurso sem lugar aqui será o do ódio", avisou, acrescentando que a razão "não se mede em decibéis". "A liberdade e a igualdade custaram demasiado para que agora possamos regredir para novos tempos de barbárie", afirmou, voltando a motivar uma ovação da ala socialista do hemiciclo.
Novo presidente promete "imparcialidade"
Santos Silva avisou também que há "duas regras elementares" no Parlamento: uma é o "respeito por todos os mandatos" e a outra é o "respeito pela vontade popular", não perdendo nunca de vista a correlação de forças que os portugueses quiseram conferir ao hemiciclo.
Também aqui, a nova segunda figura do país tinha o Chega como alvo. Afirmando que os tempos atuais são "difíceis e complexos", alertou contra as "simplificações abusivas" do "populismo", dizendo que este pretende substituir "o debate pelo insulto". Mas "a melhor maneira de o combater é não lhe conceder mais relevância do que aquela que o povo português lhe quis atribuir", concluiu.
No início do discurso, Augusto Santos Silva lembrou as próprias origens: "Serei o primeiro presidente com origem, atividade profissional e residência no Porto", afirmou, argumentando que essa circunstância, somada ao facto de ter sido eleito pelo círculo de Fora da Europa, comprova que o Parlamento é "verdadeiramente nacional".
Santos Silva comprometeu-se a realizar uma presidência "imparcial, contida e aglutinadora". O conselho mais frequente que ouviu da parte dos partidos foi que se mantenha atento a eventuais "abusos" da parte de um Governo com maioria absoluta no Parlamento.
Após o fim do discurso, que durou cerca de 20 minutos, foi aplaudido de pé por todos os deputados do PS. A maioria dos parlamentares do PSD, embora sentados, também bateram palmas ao novo presidente da Assembleia. Chega, IL, PCP e BE ficaram sentados.
Augusto Santos Silva foi o único candidato à presidência da Assembleia da República, sendo eleito com 156 votos. Houve ainda 63 votos brancos e 11 nulos.
Aos 65 anos, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros sucede a Eduardo Ferro Rodrigues. Conseguiu mais votos do que os obtidos pelo antecessor na primeira candidatura, em 2015 (120), mas menos do que Ferro alcançou quando se recandidatou, em 2019 (178, com 44 contra e oito nulos).