O Governo toma posse esta quarta-feira, com os olhares postos, desde logo, no superministério de Mariana Vieira da Silva, número dois que reúne agora na Presidência as pastas do Planeamento, ficando a coordenar os fundos europeus, e da Administração Pública. Um reforço que, segundo politólogos ouvidos pelo JN, é também um risco pelos possíveis problemas de articulação, a começar na relação com a Economia tutelada por Costa e Silva, pai do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
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Dos desafios do Governo, agora mais reduzido e com dez novos ministros, destacam-se precisamente a aplicação do PRR e dos quadros comunitários, o relançamento económico, bem como a crise energética, a recuperação do ensino após o período pandémico perante os atrasos na aprendizagem e o financiamento do Superior, a descentralização e a regionalização, e a reforma da Justiça. Prioridades enumeradas pelo politólogo Miguel Rodrigues, diretor do Centro de Investigação em Ciência Política na Universidade do Minho.
Nos fundos europeus, alerta para a hipótese de "problemas de articulação" com Costa e Silva, que traçou um plano, mas "poderá não ter ferramentas para o implementar", quando "os fundos estão concentrados na ministra da Presidência". Por sua vez, a ministra Ana Abrunhosa, da Coesão Territorial, que tem os fundos regionais e faz a ligação ao poder local, surge como "parente pobre daquele megaministério".
Experiência política
O politólogo não esquece que os putativos sucessores de António Costa estão no Governo e aponta Mariana Vieira da Silva, Pedro Nuno Santos, Fernando Medina e Ana Catarina Mendes. E não acredita que Marta Temido tenha perfil para liderar o PS.
Para Pedro Silveira, diretor do curso de Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade da Beira Interior, quando comparado com os anteriores, "este é, inquestionavelmente, um Governo onde abunda a experiência política (e até partidária), o que é uma situação desejável", já que o Executivo é "uma instituição política e não meramente técnica". E o "fundamental é que os membros com perfil mais político tenham conhecimento do setor e/ou que se rodeiem de pessoas com esse know-how".
Este politólogo discorda "completamente" da conclusão de que "Costa prefere como sucessora Mariana Vieira da Silva" por ser a segunda na hierarquia do Governo. "É natural que o ministro ou ministra da Presidência surja em segundo lugar. Outra coisa é acumular subáreas setoriais fundamentais com a coordenação interna do Governo. Isso irá conferir-lhe recursos políticos internos e externos muito relevantes (curiosamente, só comparáveis aos de Fernando Medina)". Mas "resta saber se uma só pessoa conseguirá dar conta de tão grande recado".