O Hospital de S. João, no Porto, está a vacinar gratuitamente contra o Vírus do Papiloma Humano [HPV] as suas utentes com lesões graves do colo do útero e precursoras de cancro. O fármaco faz parte do Programa Nacional de Vacinação, mas abrange apenas raparigas nascidas após 1992 e rapazes nascidos depois de 2009. Para as restantes faixas etárias, a vacina não é comparticipada e representa um investimento superior a 400 euros.
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O hospital estima inocular cerca de 100 pacientes por ano, sendo elegíveis mulheres com menos de 65 anos.
"Mulheres com lesões graves do colo do útero têm vantagem em ser vacinadas porque [a vacina] vai reduzir em cerca de 80% o risco de terem novamente lesão. Temos aqui um ganho potencial muito grande. Não só em termos menos testes positivos [para o HPV], como menos probabilidade de ter de repetir tratamentos", referiu Pedro Batista, responsável pela Unidade de Trato Genital Inferior do serviço de Ginecologia do Hospital de S. João.
De acordo com o médico, em 2018, metade das utentes a quem era prescrita a vacina acabava por não a tomar devido a razões económicas. Até porque quem não está abrangido pelo Programa Nacional de Vacinação tem de comprar a vacina na farmácia. Cada uma das três doses necessárias custa cerca de 135 euros. O S. João está a administrar gratuitamente às suas utentes. "A mulher é referenciada [pelo centro de saúde] porque tem indicação para vir para a nossa unidade para fazer uma colposcopia. Nós fazemos um diagnóstico de uma lesão de alto grau e propomos a vacina", explicou.
É uma proteção"
Elisa Sousa reconhece que a iniciativa é uma mais valia. Tem 47 anos e é seguida no S. João há mais de um mês após ter-lhe sido detetada uma lesão grave no colo do útero. "É uma proteção para mim e para todas as mulheres na mesma situação que eu", considerou a utente, admitindo que "teria de fazer um esforço" para pagar a vacina caso o hospital não a disponibilizasse.
Filipa Mateus, de 31 anos, também enaltece a iniciativa. Vive em Valongo e foi encaminhada para o S. João pela médica de família após ter testado positivo para o HPV no exame do Papanicolau. "Tinha zonas do colo do útero infetadas por HPV. Tive de fazer a conização, que é a retirada das zonas infetadas", contou a jovem a quem foi aconselhada a vacinação.