Se em abril chover o normal para a época, Portugal continuará em situação de seca meteorológica. Chuva regressa quinta-feira e fica até ao início da semana.
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No final de março a seca agravou-se em Portugal, com o regresso da seca extrema a 0,5% do país, concretamente ao Algarve, e com a seca severa a chegar a 37,6% do território, sobretudo no Sul. Será preciso chover bastante acima do que é normal nesta altura do ano para que o cenário se inverta. A chuva que se espera a partir de amanhã só deverá refrescar os solos.
Os cenários foram traçados ao JN pela climatologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) Vanda Pires. O mais favorável, e que assenta em valores da quantidade de precipitação muito superiores ao normal (estes valores ocorrem apenas em 20% dos anos), ditaria o fim da seca nas regiões Norte e Centro e uma diminuição de intensidade no Sul, passando a fraca/moderada.
Se os valores de precipitação andarem próximos do normal, "a seca mantém-se mais ou menos idêntica, com uma diminuição da moderada e severa". Se, pelo contrário, a quantidade de precipitação for muito inferior ao normal, "a seca extrema estende-se para mais regiões do Sul e a severa sobe para mais regiões do Centro". Em qualquer um dos três cenários, a seca não descola do Sul do território, variando apenas a sua intensidade.
Abril sem águas mil?
Vanda Pires não arrisca nenhum cenário. Ainda na semana passada se previa tempo quente e seco e agora as previsões são de chuva. "A partir de quinta-feira e até ao início da próxima semana haverá alguma precipitação para todo o território, mais intensa no Norte e Centro". Pelos cálculos da climatologista do IPMA, "os valores da precipitação na Região Sul não vão ser suficientes para diminuir a situação de seca, podendo eventualmente haver uma diminuição no Norte, mas sem sair de seca".
A situação presente é, no entanto, "muito mais favorável do que no ano passado, em que estávamos em seca extrema e agora estamos em seca severa", sublinha, por sua vez, o especialista em recursos hídricos Rui Cortes. Em 2018, lembra, começou a chover apenas a 28 de fevereiro, pelo que o "défice hídrico era muito mais intenso". Contudo, avisa, apesar de a "nossa capacidade de armazenamento ser superior, nada evita que se venha a agravar".
A 31 de março o volume de água armazenado tinha subido em sete bacias e descido em cinco quando comparado com o final do mês anterior. Atualmente, de acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente, das 60 albufeiras monitorizadas, 14 têm disponibilidades hídricas superiores a 80% do total e dez inferiores a 40%.
OUTROS DADOS
Qualidade das massas
Um consórcio de universidades vai fazer, juntamente com a Agência Portuguesa do Ambiente, uma "caracterização ecológica das massas de águas a nível nacional para ver se há degradação das águas", revela Rui Cortes, professor da UTAD que, juntamente com as universidades de Évora e Algarve, integra o consórcio.
Menos precipitação...
A diminuição da precipitação na Península Ibérica é uma evidência. Em Portugal, pelas contas do especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos, a precipitação está a diminuir ao ritmo de 40 milímetros por década.
... mais calor
Em sentido contrário, e conforme o JN noticiou, desde 1950 a temperatura média em Portugal está a subir ao ritmo de 0,2 graus Celsius por década.
Camiões-cisterna
O Governo determinou, na última reunião da Comissão Permanente da Seca, a pré-contratação de camiões-cisterna caso haja necessidade, como aconteceu em 2017, de abastecer populações por aquela via.
CAP pede apoio
A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) já veio pedir apoio ao Governo para fazer face à falta de alimentação animal.