Socióloga chilena cancela participação em debate com Boaventura de Sousa Santos
A socióloga chilena Claudia Dides anunciou, nas redes sociais, que não iria participar num debate da Feira do Livro das Ciências Sociais, no Chile, para o qual Boaventura de Sousa Santos, recentemente acusado de assédio sexual, foi também convidado. O sociólogo português e diretor emérito do Centro de Estudos Sociais de Coimbra está na América Latina a participar no evento.
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Claudia Dides anunciou, na quinta-feira, na sua página de Twitter, que não iria participar numa mesa redonda chamada "Epistemologias do Sul", integrada na Feira do Livro das Ciências Sociais, no Chile, e na qual Boaventura de Sousa Santos está a participar. O debate está marcado para as 11 horas locais (mais cinco horas do que em Lisboa), o que significa que estará a decorrer esta tarde.
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A socióloga chilena, que é também académica e investigadora, justifica a ausência da mesa redonda devido às "acusações contra o professor Boaventura de Sousa". Claudia Dides, que está presente no evento, como aliás comprovam algumas publicações do Twitter, dedica o seu trabalho aos temas da cultura, género, poder e política pública.
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Boaventura de Sousa Santos é um dos visados na mais recente polémica de casos de assédio sexual na academia portuguesa. Na terça-feira, soube-se que três investigadoras denunciaram condutas sexuais inapropriadas numa instituição académica. As autoras descreveram as situações de assédio sexual num livro internacional, publicado a 31 de março, na editora académica Routledge.
Por ser a única instituição em comum no percurso das três mulheres, foi facilmente percetível que os casos ocorreram no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra. Apesar de não referirem nomes, as descrições dos alegados autores do assédio são atribuíveis a Boaventura de Sousa Santos, diretor emérito do CES, e ao investigador Bruno Sena Martins.
Estudantes de Sociologia "atentos" a polémica
Foi a partir de Santiago do Chile que o sociólogo português escreveu uma carta aberta aos investigadores do CES e garantiu estar a ser vítima de uma "difamação anónima, vergonhosa e vil por parte de três autoras". "No que respeita às insinuações que me são feitas, quero afirmar que confrontarei qualquer suposta vítima com serenidade e sentido de responsabilidade", apontou.
Também Bruno Sena Martins disse que as declarações das autoras são "insinuações fantasiosas". O CES anunciou estar a investigar as denúncias feitas pelas três investigadoras.
Algumas publicações do Twitter da Feira do Livro das Ciências Sociais mostram intervenções de Boaventura de Sousa Santos a 11 de abril, dia em que vieram a público as acusações das três investigadoras.
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Já depois da polémica ser conhecida, surgiram mais duas mulheres a acusar o sociólogo português de assédio sexual e moral. Uma investigadora brasileira disse ao jornal "Público" ser uma das vítimas identificadas na obra da Routledge. Já uma ativista argentina afirmou, num vídeo publicado a 10 de junho nas redes sociais, que o diretor emérito do CES tentou "atirar-se para cima" da própria, após ter ido ao departamento de Sousa Santos buscar uns livros.
Boaventura de Sousa Santos vai encerrar, no próximo dia 22 de abril, o Encontro Nacional de Estudantes de Sociologia (ENES), que se realiza no Porto. Ao JN, o Núcleo de Alunos de Sociologia do Porto, que organiza o evento, afirmou "estar atento ao desenvolvimento da situação [polémica do CES]". "Uma vez que a organização ainda não reuniu para debater (...), não podemos afirmar a presença ou ausência do professor Boaventura de Sousa Santos", disseram. "Acrescentamos que não existiu, desde a aceitação do convite, em fevereiro último, nenhum contacto entre o professor e a organização do ENES".