Desde que tomou posse, o Executivo de António Costa já esteve envolvido em uma dúzia de polémicas, retirando-lhe capacidade de intervenção política.
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Em seis meses de funções, o Governo de António Costa já esteve envolvido numa dúzia de polémicas. Uma sucessão de casos que culminou com a nomeação de Sérgio Figueiredo para o Ministério das Finanças e que levou o líder do PSD, Luís Montenegro, a atirar que o Governo está "a merecer ser despachado". O politólogo Pedro Silveira não vai tão longe. Mas admite que a situação dá "uma ideia de desgaste" e de incapacidade de iniciativa política. Mas insuficiente para se antecipar eleições.
"Qualquer Governo tem necessariamente de lidar com erros próprios. O problema é quando são muitos, consecutivos e graves, passando uma ideia de desgaste, de um Governo a reboque dos acontecimentos, sem capacidade de iniciativa política. Este Governo parece estar nessa situação", considera Pedro Silveira.
governo com sete anos
Para o professor de Ciência Política da Universidade da Beira Interior, essa situação deve-se a dois fatores conjugados: tratar-se de um Governo, no essencial, de continuidade ("sete anos é muito tempo!"); e a vários erros logo no início do mandato, como o facto de o presidente da República ter conhecido o Executivo pela Comunicação Social.
"Criaram uma imagem de desgaste que foi ampliando os erros ocorridos desde então", defende Pedro Silveira, considerando, porém, que não é suficiente para se temer eleições antecipadas. "Estes casos são importantes porque contribuem para uma imagem de Governo estagnado, sem capacidade de iniciativa política. Constituem uma falsa partida, mas ainda faltam muitas voltas".
marcelo
Soube pelos média do novo Governo
"Pelos vistos, soube pela Comunicação Social". Foi assim que o presidente da República reagiu ao facto de a composição do novo Governo ter sido divulgada nos média, horas antes da audiência com António Costa. "No caso da lista ser correta, até facilita a minha vida. Dispensa-se a audiência", disse Marcelo, que cancelou o encontro.
belém
Aviso de eleições em caso de saída
Na tomada de posse, a 30 de março, o presidente da República deixou um sério aviso a António Costa: se sair a meio do mandato, haverá eleições antecipadas. "Os portugueses deram maioria absoluta a um partido mas também a um homem", justificou Marcelo Rebelo de Sousa.
setúbal
Russos acolhem ucranianos
O caso parecia apenas beliscar a Câmara de Setúbal. Os refugiados ucranianos foram recebidos por Igor Khashin, líder da comunidade russa em Setúbal. Mas acabou por afetar António Costa, quando se soube que Igor era monitorizado pelas secretas. O primeiro-ministro recusou confirmar de sabia, escusando-se no secretismo dos relatórios dos Serviços de Informação.
urgências no verão
Apelo para não se ficar doente
Um mês depois, estava o país com várias urgências encerradas, a diretora-geral de Saúde, Graça Freitas, avisou que agosto não era um bom mês para se ficar doente. E Marcelo Rebelo de Sousa aconselhou mesmo os cidadãos a fazerem "o esforço" para não ficarem doentes. Costa prometeu que a situação ficaria resolvida a 20 de junho, mas a verdade é que os encerramentos de serviços persistem.
combustíveis
Costa aconselha a parar carros
Com aumentos semanais dos combustíveis, Costa foi pressionado a baixar impostos e a fiscalizar as gasolineiras por suspeitas de inflacionarem preços. Pelo meio, atirou: "As cidades levaram 50 anos a adaptarem-se para acomodar o corpo estranho que era o automóvel. Agora, temos muito menos tempo para nos habituarmos a viver sem esse corpo estranho. O melhor é estacionar o automóvel".
aeroporto
Um despacho e uma revogação
Em julho, com António Costa fora do país, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, publicou um despacho com a localização do novo aeroporto de Lisboa, esquecendo que o primeiro-ministro tinha prometido esperar pela posse de Luís Montenegro. António Costa revogou o despacho e chegou a dar-se como certa a demissão de Pedro Nuno Santos, mas o ministro acabou por pedir desculpas e atribuir o caso a um "erro de comunicação".
PRR
Mário Ferreira na berlinda
A atribuição de 40 milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) à empresa de navios Pluris Investments, de Mário Ferreira, levantou suspeitas de favorecimento. É que tratava-se de 52% do total já aprovado. Mário Ferreira acabou por prescindir do apoio.
endesa
O despacho e o aviso de aumentos
O presidente da elétrica espanhola Endesa avisou que a fatura da eletricidade ia aumentar 40% por causa do mecanismo ibérico. Costa desmentiu e fez um despacho, ordenando que nenhuma fatura seja paga à Endesa sem o aval do secretário de Estado adjunto e da Energia, João Galamba.
Siresp
Culpa apontada aos bombeiros
Cinco anos depois das suspeitas de falhas nos incêndios de Pedrógão, o SIRESP voltou a estar sob suspeita nos fogos deste ano em Leiria. António Costa desmentiu e acusou os bombeiros de não saberem usar o sistema.
CAP
Ministra retoma campanha
Perante críticas dos agricultores por falta de apoios devido à seca, a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, atirou: "É melhor perguntar porque é que durante a campanha eleitoral a CAP aconselhou os eleitores a não votar no PS".
professores
Polémica com licenciaturas
A notícia de que qualquer licenciado poderá passar a dar aulas obrigou o ministro da Educação, João Costa, a vir explicar que se trata de uma medida transitória e que "a habilitação de acesso à profissão é e vai continuar a ser o mestrado".
finanças
Nomeação que levou a renúncia
A nomeação de Sérgio Figueiredo para consultor das Finanças com um salário superior ao do ministro provocou denúncias de troca de favores. O ex-diretor de informação da TVI acabou por renunciar ao cargo. Mas a oposição continua a exigir explicações.