Matosinhos, Vila do Conde e Póvoa de Varzim no centro da contaminação. Torre de refrigeração pode ser a fonte.
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Um surto de legionela cuja origem ainda está por determinar já infetou 50 pessoas e fez cinco mortos em Vila do Conde, na Póvoa de Varzim e em Matosinhos. O caso traz à memória a situação de Vila Franca de Xira, em 2014, onde houve 12 óbitos. Autarcas e população estão em sobressalto. As autoridades de saúde continuam a tentar identificar a origem do surto. Segundo apurámos, a fonte considerada mais provável será uma torre de refrigeração entre o sul do concelho de Vila do Conde e o norte de Matosinhos. Uma tese que o infecciologista Jaime Nina considera fazer sentido.
Os infetados são quase todos idosos, entre os 80 e os 90 anos (à exceção de um homem de 59 anos) que, assustados com a covid-19, pouco saem de casa. A maioria reside em Vila do Conde e Matosinhos, mas o surto estendeu-se à Póvoa de Varzim e há um caso em Esposende.
Entre uns e outros, há mais de 30 quilómetros. O JN sabe que o único traço comum encontrado é que, ou vivem na zona onde surgiram mais casos (entre o sul do concelho de Vila do Conde e o norte de Matosinhos), ou, nos dias que antecederam os primeiros sinais da doença, viajaram pela A28 em direção ao Porto.
A investigação faz as autoridades de saúde acreditarem que o foco de contaminação estará numa torre de refrigeração, à semelhança do que aconteceu, em 2014, em Vila Franca de Xira.
Jaime Nina diz que "faz sentido". A contaminação nunca se dará, explica, "a mais de dois ou três quilómetros do foco", mas, em 2014, houve quem tivesse sido infetado porque passou "na hora errada, no local errado", com os vidros do carro abertos. Falta, agora, descobrir qual a torre. Sem desativá-la (e proceder à desinfeção), não será possível evitar novas contaminações.
"Fonte comum"
O primeiro caso de doença dos legionários deu entrada no Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde a 29 de outubro. Joaquim Maria Ferreira, de 85 anos, residente na Póvoa de Varzim, viria a falecer no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, a 5 de novembro. Depois deste caso, outros 48 foram já identificados nos dois hospitais (19 na Póvoa e 29 em Matosinhos) e um no ACES Cávado III - Barcelos/Esposende. Cinco pessoas já morreram. Duas são de Matosinhos, duas de Vila do Conde e uma da Póvoa. Tinham entre os 85 e os 92 anos.
Ontem, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, admitiu que, apesar de "ser normal" surgirem casos nesta altura do ano (Portugal regista, em média, cerca de 200 casos/ano), o elevado número e a concentração numa região, "indicam uma fonte comum". Garante que "as autoridades de saúde estão a fazer o seu papel", em busca da fonte.
Com a confirmação de casos na Póvoa de Varzim, incluindo um óbito, o presidente da Câmara, Aires Pereira, está está preocupado.
Em Vila do Conde, Elisa Ferraz admite que soube do primeiro caso há uma semana. Está "a acompanhar a evolução da situação" e a trabalhar em "estreita colaboração" com as autoridades de saúde, no sentido de prestar "todos os contributos que possam ser úteis" na busca pela "causa/origem dos casos".
Em Fajozes, há medo. A freguesia conta já pelo menos três casos. Uma pessoa morreu. Viviam todos na mesma rua. A presidente, Sílvia Lomba, já pediu informações à saúde, mas, por agora, nada lhe foi comunicado.