Seis meses depois de toda a comunidade escolar se ter enfiado em casa, a 16 de março, voltar à escola parece uma necessidade inquestionável para pais, crianças e especialistas.
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Há unanimidade, na certeza, porém, de que esta é uma nova realidade e que o caminho se vai fazer de teste e erro. A fórmula para as aulas em tempos de pandemia ainda não existe, mas psicólogos alertam que os pais têm que desdramatizar.
Para Rolanda Gaspar, de Aveiro, as duas filhas voltarem à escola é importante. É o recuperar da normalidade o mais possível. A mais velha vai para o 12.º ano, já experimentou aulas presenciais no final do ano letivo. A mais nova passou para o 7.º ano.
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"Elas estão ávidas para voltar. Mas a mais nova está mais ansiosa, até porque vai mudar de escola. Já me fala na lancheira, que talvez seja melhor levar o almoço para não comer lá. E pergunta como será com as máscaras". A mãe sente o medo normal de um ano diferente. "O número de casos aumentou nas férias. E tenho receio. Vai haver mais contacto entre as crianças e consequentemente entre todas as famílias". Mas não embarca em pânicos. "O dia já é passado a dizer-lhes para não porem a mão na máscara, desinfetarem as mãos, não mexerem em nada. Não estou a prepará-las de forma especial. Acho que se vai vendo devagarinho".
ansiedade é normal
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É isso que os especialistas defendem: vamos indo e vendo. Certo é que "as crianças precisam de voltar à escola". "Não só para esbater as desigualdades que se observaram no confinamento, como também para promover o bem-estar. As crianças e jovens precisam do contexto de socialização, da interação com os pares. E também é essencial para as famílias que ficam mais libertas", diz Sofia Ramalho, especialista na área da psicologia de educação.
A ansiedade, garante, é normal. "Na generalidade, todas as crianças e jovens querem voltar. No caso das mais pequenas, é natural que tenham mais dificuldades na separação dos pais. E nos adolescentes poderá haver um grupo que se compensou mais nas novas tecnologias, mas nada substitui a relação presencial".
As novas rotinas serão novidades com que "vão ter que lidar". "Vai ser um regresso a medo. De testagem e erro. Por muito bem antecipado que seja", avisa Sofia Ramalho. O psicólogo clínico Manuel Coutinho concorda. "É importante que as pessoas não arranjem um problema para cada solução. Isso só cria obstáculos e ansiedade nas crianças. As crianças só refletem as ansiedades dos adultos e os pais estão ansiosos".
todos estão a aprender
Para o secretário-geral do Instituto de Apoio à Criança, "no caminho as decisões vão sofrer certamente mutações" e não há problema nisso, "todos estamos a aprender". "As crianças vão chegar a casa muitas vezes com a máscara trocada. Não tenho dúvidas, a solução é educar".
Acredita que os jovens, mergulhados num mundo de tecnologia, até preferiam ficar em casa, "mas não podemos viver só de acordo com o princípio do prazer". "E custa-me muito que se crie esta ideia de um vírus muito mau. Todos temos que ir avançando". Passado tanto tempo, diz, "vai certamente custar mais. Mas ao fim de umas semanas já estão todos adaptados".