Tiago Mayan apoia a candidatura de Carla Castro à liderança da IL, para trazer ao partido uma "cultura de gestão" mais "descentralizada, participada e transparente". Ao JN, o ex-candidato presidencial não esconde o distanciamento face a João Cotrim Figueiredo e recusa que os liberais participem num futuro Governo com o Chega. No entanto, considera a "geringonça de Direita" nos Açores - que envolve PSD, Chega, IL e CDS - uma "excelente solução". A IL escolhe o novo líder neste domingo.
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Que expectativas tem para esta convenção e que balanço faz do mandato da direção cessante?
Sou declaradamente apoiante de Carla Castro porque entendo que estamos num momento de mudança de cultura de gestão. Somos um partido muito jovem, mas isso também significa que um partido que, antes, cabia todo numa sala é, agora, um grande partido português. Portanto, [ela é a solução] para continuarmos a ser fiéis à visão de partido que estabelecemos há cinco anos - um partido liberal, descentralizado, transparente, que envolve os seus membros e que aproveita a sua grande força. Um partido que quer manter essa matriz tem de mudar a cultura de gestão. É isso que está em causa nesta convenção: escolher entre um 'continuismo', uma cultura de gestão que não soube acompanhar o crescimento do partido, e uma mudança para uma visão mais descentralizada, participada e transparente.
Foi o destinatário de uma das críticas internas do discurso de João Cotrim Figueiredo, quando o líder lembrou que houve quem o tivesse apelidado de "cabecilha de um comité central". Como reage?
Não preciso de reagir. Foi o João que reagiu a essa matéria, demitindo-se a meio do mandato e afirmando, no seu próprio discurso, que reconhece problemas a nível da gestão. Eu não fiz essa afirmação [a comparação da atual direção com um órgão comunista] mas, apropriando-a, é uma imagem gráfica e pictórica para representar a tal cultura de gestão que o partido não soube acompanhar. A gestão está hoje demasiado concentrada em poucas pessoas, sendo também pouco transparente e pouco envolvente dos membros. Essa cultura de gestão - usando essa imagem pictórica - é mais próxima desse paradigma de comité central do que de uma visão liberal.
A IL não estará "condenada" a entender-se com o Chega caso queira que Portugal volte, um dia, a ter um Governo de Direita?
Não, isso já está perfeitamente esclarecido. A IL é um partido liberal em toda a linha. Evidentemente que, independentemente de nomes, nunca poderemos estar de acordo com partidos que não são liberais em nada - em termos políticos, sociais e económicos. O Chega é um partido iliberal nestas três vertentes. Evidentemente que a IL nunca pode estar de acordo com um partido iliberal, qualquer que ele seja. É tão coerente fazer um Governo com o PCP como fazer um Governo com o Chega.
E fazer um acordo a nível nacional com PSD semelhante ao que já existe nos Açores? Ou seja, em que IL e Chega assinam protocolos com o PSD mas não entre si?
A questão dos Açores foi muito vilipendiada pelo candidato Rui Rocha, mas eu não percebo essa argumentação. O que aconteceu nos Açores é de louvar e, do meu ponto de vista, foi uma excelente solução. A IL estabeleceu com o PSD, que lidera o Governo, medidas liberalizantes para os Açores, e elas estão a ser aplicadas em todos os orçamentos. Também dissemos que não aceitaríamos a aplicação de quaisquer políticas que fossem contrárias aos nossos valores e princípios. Isso também está a ser aplicado. Depois, o que o PSD busca em termos de viabilização do seu Governo é com eles. Mas todos os dias, na Assembleia da Republica, há propostas apresentadas pelo PS que têm o apoio do Chega. Em termos estatísticos, o Chega vota mais com o PS do que com a IL. Isto significa que o PS está coligado com o Chega? Não. E acrescento: prefiro, em termos de estabilidade, um Governo que coloque por escrito os acordos de incidência parlamentar do que um que os faça depender só da palavra.
Os eleitores da IL têm um perfil jovem, urbano e, nas palavras do líder cessante, pouco "popular". Isto não limitará o crescimento do partido?
Não. Há mensagem liberal para múltiplos públicos. Há, por exemplo, para os funcionários públicos que são valorosos e tem mérito mas não conseguem ver isso reconhecido no trabalho que fazem. Há para todo o mundo de profissionais liberais que existem por todo o país - no interior, nas ilhas, nas cidades -, há para os seniores... Há uma mensagem liberal para múltiplos públicos em todo o território. É só preciso saber desenvolvê-la.