"Habitue-se". Na despedida, Cotrim diz a Costa que IL continuará a "irritar" PS
O líder cessante da IL afirmou, este sábado, que o partido continuará a "dar motivos" para que o primeiro-ministro se "irrite". Num discurso de despedida mas "virado para o futuro", João Cotrim Figueiredo saudou o crescimento da IL, trajeto que disse ter contrariado o que os "tudólogos do cinismo" previam. Também atacou o ministro das Finanças por "nunca saber de nada" e deixou ainda recados aos críticos internos, duvidando que todos eles tenham o bem do partido como prioridade.
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Na convenção da IL, Cotrim Figueiredo referiu "que é a IL que faz a oposição mais inteligente e eficaz" ao Governo. E, no seu entender, é esse motivo que faz com que primeiro-ministro e PS "tanto se irritam connosco".
Dirigindo-se ao primeiro-ministro, o presidente dos liberais prometeu: "A IL aqui está para lhe continuar a dar motivos para se irritar. Habitue-se!". O desafio - em alusão à palavra usada por Costa, em dezembro, ao garantir à Oposição que ficaria no poder até 2026 - foi muito aplaudido pelos quase mil presentes.
Cotrim enumerou uma lista de temas onde a IL "fez a diferença" durante o seu mandato, da introdução do debate sobre a taxa única de IRS até à denúncia do "enterro" de 3,2 mil milhões de euros na TAP. E foi ao falar da transportadora que desferiu o maior ataque do seu discurso, com o contestado ministro das Finanças, Fernando Medina, como alvo.
Medina "está sempre distraído" e Pedro Nuno "sai com o rabo entre as pernas"
"A direção executiva da TAP anda em roda livre, a contratar amigos e a despedir administradores com chorudas indemnizações, das quais o ministro das Finanças não sabe nada. Mas esse também nunca sabe de nada, está sempre distraído", acusou, recebendo nova ovação.
Medina, continuou Cotrim, "não sabia dos dados dos dissidentes ucranianos enviados à embaixada russa, não sabia das indemnizações pagas na TAP e, agora, não sabe de como é que um ex-autarca do PS de Castelo Branco era o único capaz de fiscalizar obras em Lisboa", atirou, aludindo à mais recente polémica a envolver o ministro das Finanças.
"Fernando Medina nunca sabe de nada", insistiu o líder liberal. "Pelo menos nesse aspecto daria um ótimo sucessor de António Costa, que também é especialista a sacudir a água do capote", ironizou. Acusou o primeiro-ministro de não ter "sentido de estado nenhum" e, tal como já tinha feito à entrada da convenção, considerou que o Governo está hoje "em evidente desagregação".
Sobre Pedro Nuno Santos, ex-ministro das Infraestruturas - e um dos governantes mais atacados pelos liberais, devido ao dossier TAP -, considerou que este saiu do Executivo "com o rabo entre as pernas". Pedro Nuno, recorde-se, demitiu-se na sequência do caso da indemnização paga a Alexandra Reis, ex-administradora da TAP.
Trabalhou "para o bem" da IL e há críticos que "não podem dizer o mesmo"
Apontadas as baterias ao Governo, Cotrim centrou-se, depois, na vida interna do partido. Admitiu que "nem tudo foi um mar de rosas" durante o seu mandato, reconhecendo não ter feito o "suficiente" para adaptar as estruturas do partido ao crescimento que este obteve nas urnas.
"Aceito com humildade essa crítica", prosseguiu o liberal. No entanto, contrapôs: se tivesse de voltar a escolher entre "o funcionamento interno do partido" e a "captação" de mais eleitores, "não hesitaria" em voltar a estar virado "para fora" do partido e não "para dentro".
Enumerando e rebatendo todas as críticas que ouviu, Cotrim disse aos seus detratores, "olhos nos olhos", que trabalhou sempre "para o bem" da IL. "Não sei se todos os críticos podem dizer o mesmo", frisou, embora sem nunca referir os destinatários.
Em concreto, Cotrim lembrou que lhe chamaram "autocrático", "centralista" e "cabecilha de um comité central" (esta última observação foi feita recentemente por Tiago Mayan, candidato à presidência apoiado pela IL em 2021), além de o terem acusado de "falta de transparência".
Já quanto ao facto de ter dado o seu apoio ao candidato Rui Rocha, o ainda líder da IL lembrou que nenhum militante pode ficar "diminuído" e impedido de expressar a sua opinião. A opção de ter tornado pública a sua preferência, ainda para mais no mesmo dia em que anunciou a saída, gerou algum mal-estar no partido.
Antes, Cotrim Figueiredo tinha enaltecido o crescimento da IL, que chegou pela primeira vez ao Parlamento em 2019 e elegeu oito deputados em 2022. "Crescemos e afirmámo-nos. Aos nossos adversários políticos, aos tudólogos do cinismo eu digo: olhem para nós, olhem para nós e digam lá agora que não há cada vez mais liberais em Portugal", vincou.