Os trabalhadores da Administração Pública, que se reuniram esta quinta-feira em frente ao Palácio da Ajuda, em Lisboa, queixam-se da falta de resposta do Governo. Reivindicam o aumento geral dos salários, a valorização das carreiras, a correção da tabela remuneratória única, a revogação do SIADAP e a defesa dos serviços públicos.
Corpo do artigo
O dia de hoje foi marcado por greves e manifestações um pouco por todo o país e culminou com a concentração, que contou com vários dirigentes sindicais e a secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha.
Durante a pandemia, em "matéria laboral o que ficou por fazer foi mais do que palmas aos trabalhadores, nomeadamente aos da Administração Pública". "Ficou por valorizar o trabalho de todos e defender o emprego de todos", disse Sebastião Santana ao JN.
"Esta luta destes trabalhadores, hoje, foi de greve em vários setores da administração pública, e tem aqui esta concentração que culmina o dia de luta que estão a realizar e integra-se num grande caudal de lutas que temos vindo a realizar", disse Isabel Camarinha ao JN. Para a secretária-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses, é urgente o "aumento geral dos salários, que é uma urgência nacional" e o "fim da precariedade e deste modelo que temos".
A Frente Comum (FC) exige a "proteção do emprego, o aumento dos salários, a contratação de trabalhadores para a administração pública em número suficiente e a não externalização de serviços que acaba por financiar grupos económicos", disse Sebastião Santana, coordenador da FC.
Isabel Camarinha aponta falhas ao governo na gestão do emprego durante a pandemia. Considera que as medidas "não garantiram as necessidades dos trabalhadores" e dá o exemplo da restauração e da cultura. "Em muitos setores, há trabalhadores na pobreza extrema, a passar fome". "Ficou por fazer o apoio que devia ter sido dado aos trabalhadores", disse, apontando um "grande desequilíbrio nas medidas que foram tomadas e que favoreceram o grande capital".
"Temos no nosso país uma quantidade enorme de trabalhadores que trabalham, têm um salário, e são pobres. Isto é uma situação inaceitável", disse Isabel Camarinha.
Sebastião Santana dirigiu duras críticas ao Governo. Denúncia "uma política de silenciamento absoluto em relação às propostas apresentadas pelos trabalhadores" e fala em "mentira descarada em relação ao que é um processo negocial". O coordenador defende uma "valorização dos serviços públicos e o reforço das funções sociais do Estado pela via de contratação de trabalhadores e da valorização de quem cá trabalha" e a "correção da tabela remuneratória única". Apela à dignificação das carreiras, exigindo a sua revisão, e ataca o Governo de Sócrates por ter destruído cerca de 1400 carreiras profissionais.
"Cimeira social não trouxe nada de novo"
O mote geral é "mais direitos para os trabalhadores" e o caminho é uma maior soberania de cada Estado. Sebastião Santana considera que a cimeira social europeia contribui para aprofundar tendências da UE que levam à "fragilização dos vínculos laborais" e "precarização do trabalho" e que vai "levar ao fim da autonomia de cada estado-membro". "Nós rejeitamos esse caminho", "entendemos que é preciso um reforço dos Estados, da autonomia de cada país", acrescentou.
Para Isabel Camarinha, "matérias de salário ou de legislação laboral são matérias que não são da competência da UE, são de cada estado-membro. "Nem nós aceitamos que sejam remetidas para a UE", defendeu.
"A cimeira social não trouxe nada de novo. Aquilo que está no plano de ação do pilar europeu dos direitos sociais não resolve o problema dos trabalhadores, em algumas situações até os pode vir a agravar" como nos horários de trabalho e a sua regulação, e um possível aumento da idade de reforma.