Trânsito no Porto e em Lisboa. Tem pressa? "Apanha o metro e demora 12 minutos"
Trânsito no Porto e em Lisboa está pior do que em 2019, antes da pandemia. Aumento do parque automóvel e trabalho "híbrido" são explicações.
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Para um cliente com pressa, e principalmente em hora de ponta, Adelino Santos tem resposta pronta: "Apanha o metro e demora 12 minutos a chegar onde quer. Era o que eu faria". Para o taxista, de 54 anos, o trânsito no Porto está "caótico". De facto, e de acordo com dados da PSE, empresa especialista em análise de dados, verificou-se, em setembro, um aumento de 22% do tráfego no Porto, e de 24% em Lisboa face ao mesmo mês de 2019, antes da pandemia. O cenário afeta também os autocarros que, por exemplo, nos trajetos matinais de Gaia para o Porto perdem "meia hora" no trânsito em Santo Ovídio. "Não sei o que é que se passa. A cidade não tem estrutura para tanto carro", observa Adelino.
Perante o volume de tráfego atual, quando se aproximam as 17 horas, caso Adelino esteja perto de casa, não aceita mais serviços. "Corro o risco de fazer duas ou três viagens em três horas", justifica. Por isso, a estratégia do taxista está já bem definida. "Se o cliente está com pressa, digo: "apanha o metro aqui na estação [dos Aliados ou da Trindade] e demora 12 minutos a chegar onde quer. No seu lugar, era o que eu faria", admite. O motorista confessa que, nessas situações, está "a ser honesto" mas, ao mesmo tempo, "a olhar para a carteira". "Muitas vezes, o cliente chega a meio do percurso, decide que vai a pé e eu fico preso no meio do trânsito", conta.
Duas justificações
O aumento do trânsito face a 2019, tanto em Lisboa como no Porto, justifica-se de duas formas. "Deve-se ao aumento de 4% do parque automóvel e ao chamado trabalho "híbrido"", explica Paulo Caldeira, da PSE.
De acordo com o especialista, o cenário nas horas de ponta é "ligeiramente menos intenso" do que era em 2019, mas "há mais trânsito" durante o dia. Isto porque, estando ainda em vigor o trabalho "híbrido" em algumas empresas - e podendo os funcionários ficar certos dias em teletrabalho -, a "flexibilidade de movimentos também aumentou". O regresso a casa estará a antecipar-se "cerca de uma hora" por causa disso. Quanto à afluência nos transportes públicos, observa que o número de passageiros "está relativamente estável" e "próximo" do registado em 2019.
Paulo Jorge, motorista da Bolt em Lisboa, sentiu um aumento do tráfego nos últimos meses e acredita que o cenário vai piorar. Diz que fica muitas vezes "meia hora" preso no trânsito por causa das obras públicas. O aumento de viagens curtas em horários em que não havia congestionamento também agrava a situação.
"O trânsito está muito pior por causa das obras da Calçada de Carriche e da Avenida 24 de Julho, assim como da futura estação do metro da Estrela", diz. "Na Avenida Liberdade e noutras, depois da hora de almoço, já há trânsito, o que não acontecia", exemplifica, acrescentando que são pessoas mais velhas "na casa dos 60 anos" que optam por viagens mais curtas, entre "o início e o fim da Avenida da Liberdade", por exemplo.
Meia hora atrasado
É sexta-feira e o trânsito atrasou em meia hora a chegada do autocarro de Filipe Mota ao Parque das Camélias, no Porto. "Deveria ter chegado às 9.40 horas e são 10.10 horas. Só para sair da autoestrada em Santo Ovídio empatei quase outro tanto de viagem", conta o motorista de 34 anos, que começou a viagem na Feira.
"Estou a 40 minutos de distância do Porto, mas todos os dias, entre as 7 e as 11 horas, é isto. Não dá para chegar a horas", observa. Para o motorista da Auto Viação Feirense, o "trânsito é provocado pelas pessoas que continuam a usar o carro". "O autocarro, que tem capacidade para quase 50 pessoas, só trouxe duas senhoras", exemplificou. "Há muita vaidade. Cada um quer ter o seu carro. Mas lá para o dia 21 ou 22 nota-se que mais gente opta pelo autocarro. O dinheiro não estica", analisa, relacionando o cenário com o preço dos combustíveis.
Quanto às críticas sobre um eventual agravamento do trânsito provocado pelos autocarros, diz que "de manhã, na Ponte do Infante, é só carros por todo o lado. Pelo meio, estão dois autocarros lá parados também". "Em vez de haver mais passageiros, há mais carros na rua. Não se compreende."
Aliviar a VCI
Para descongestionar a VCI, o Ministério das Infraestruturas está a avaliar a alteração às portagens proposta pelo grupo de trabalho composto pelas câmaras de Porto, Maia e Matosinhos, e pela Infraestruturas de Portugal (IP).
Via alternativa
Em julho, as autarquias de Porto, Gaia e Gondomar apresentaram uma proposta à IP para a criação de uma via alternativa, que reduziria em 30 mil o número diário de carros na VCI.