Centros de saúde receberam últimas 270 mil doses de imunização. Este ano, foram vacinados menos prioritários que em 2019.
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As administrações regionais de saúde (ARS) já receberam e distribuíram pelos seus centros de saúde as últimas 270 mil doses de vacina contra a gripe. Numa altura em que os dados mostram que foram imunizadas menos pessoas com mais de 65 anos do que no ano passado, apesar de o país nunca ter adquirido tantas vacinas como agora, reafirmam-se e enfatizam-se os critérios: primeiro, os idosos; depois, os doentes crónicos e os imunodeprimidos.
A informação foi confirmada pelo JN, junto de três administrações regionais. Na ARS Norte, a última tranche chegou no dia 23 de novembro num total de 113 735 doses, o maior lote de todas as ARS. A do Sul rececionou 73 mil e a do Centro mais de 46 mil doses de vacina contra a gripe. Escassas para tamanha procura, os agrupamentos de centros de saúde (ACES) reforçam os critérios, definidos pela Direção-Geral da Saúde para a presente campanha: pessoas com mais de 65 anos, doentes crónicos e imunodeprimidos.
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No ACES do Baixo Mondego, o maior do país, o conselho clínico deu orientações expressas aos seus centros sobre a quem administrar as pouco mais de 11 mil vacinas rececionadas. Primeiro, todos os utentes com mais de 65 anos. Depois, aqueles que têm duas ou mais doenças crónicas, como doença pulmonar obstrutiva crónica, diabetes, insuficiência cardíaca e imunodepressão. Isso mesmo revela, ao JN, o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Rui Nogueira, médico da Unidade de Saúde Familiar Norton de Matos. A razão é simples e expressa-se em números: temos, hoje, uma taxa de cobertura de imunização de utentes com mais de 65 anos inferior à do ano passado, quando, nesta campanha, aumentamos em 34% a aquisição de vacinas.
"Temos que ser muito precisos, muitos criteriosos", explica Rui Nogueira, apoiado nos dados do Vacinómetro (resultados a 24 de novembro, 2.ª vaga). Da população estudada, 57,1% dos idosos tinham sido vacinados, o que corresponde a menos 26 mil pessoas face ao ano passado. O cenário repete-se nos doentes crónicos: 46,4% contra 52% em 2019. Em sentido inverso, aumentou a cobertura dos profissionais de saúde (61,2%) e da população na faixa etária dos 60-64 anos, com a imunização de mais 40 mil. Sendo que dos prioritários que não foram ainda vacinados, quase dois terços pretende sê-lo.
Futuro: comprar mais
"Gastámos um pouco mais de vacinas na população que não é prioritária e temos que corrigir isto para o futuro". Sendo que, no presente, "temos que ser muito rigorosos na forma como vamos usar estas poucas vacinas". Usar a palavra racionar, admite, não é descabido. Tanto mais que, na população etariamente mais vulnerável, "vamos ficar abaixo da cobertura do ano passado, ficando aquém do que era expectável e razoável".
Aquela que seria a maior campanha de sempre de vacinação contra a gripe no nosso país, com dois milhões de doses no Serviço Nacional de Saúde, falhou. Sublinhando que partimos de "uma base boa, com uma taxa de cobertura nacional de 75%", o pneumologista Filipe Froes sublinha, no entanto, "o desvio para não prioritários, que se vacinaram mais". Perante a evidência, que esta "seja um estímulo para que, nas próximas campanhas, aumentemos a capacidade de aquisição de vacinas". Isto porque, fica claro, "fomos vítimas da nossa baixa taxa de aquisição de vacinas nos anos anteriores".