Um continente contra um vírus: as restrições da covid-19 em Portugal e na Europa
Marcelo Rebelo de Sousa disse, esta quarta-feira, depois da reunião com especialistas no Infarmed, que Portugal é, a seguir à Suécia, a "sociedade europeia mais aberta em termos de restrições". Mas é mesmo assim?
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Numa altura em que Portugal está a bater recordes de casos diários de covid-19 desde o início da pandemia - hoje foram registadas quase 40 mil infeções novas -, o presidente da República tranquilizou os portugueses, dizendo que o país é o segundo mais "aberto em termos de restrições" na Europa e que isso "não tem significado uma pressão nos internamentos, nos cuidados internamentos e no número de mortes comparável com o que se verificou há um ano".
Portugal está, neste momento, quase no fim das duas semanas de contenção decretadas pelo Governo para combater o aumento de infeções causadas pelos ajuntamentos familiares nas festas de Natal e de Ano Novo.
Entre as medidas impostas aos portugueses (para já) até ao próximo domingo, dia 9 de janeiro, estão o teletrabalho obrigatório, o encerramento de creches e ateliês de tempos livres (ATL), o encerramento dos bares e discotecas e a obrigatoriedade de apresentação de teste negativo no acesso a hotéis, eventos empresariais, desportivos e culturais e ainda eventos familiares como casamentos e batizados. O Governo proibiu ainda os saldos durante as duas semanas de contenção e limitou a lotação das lojas.
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O "modelo sueco" que já não o é
A menção da Suécia como o país com menos restrições não admira. Desde o início da pandemia, em 2020, que o "modelo sueco" se distinguiu de todos os outros países ao seu redor. Sem máscaras, nem encerramento dos bares, restaurantes e lojas ou quarentena obrigatória, a Suécia baseou-se sempre em "recomendações". Isto até ao outono de 2020, quando a segunda vaga levou as unidades de cuidados intensivos de Estocolmo quase à rutura e o Governo foi forçado a tomar medidas restritivas, o que permitiu aos suecos estabilizar o número de infeções.
Agora, um forte aumento de casos em novembro e novas preocupações com a variante ómicron forçaram o Governo a agir novamente. Desde o início de dezembro que é exigido um certificado de vacinação para acesso a eventos públicos fechados e reuniões públicas de mais de 100 pessoas, que não têm quaisquer outras medidas de controlo, como distanciamento social ou um limite na lotação. O teletrabalho está também a ser recomendado, bem como o uso de máscara nos transportes públicos. Está em discussão a exigência de certificados para acesso a restaurantes, ginásios e centros de lazer e cultura.
Um continente contra um vírus
Em Espanha, as medidas em vigor aplicam-se pelo menos até sexta-feira, dia 7 de janeiro. Neste momento, o país vizinho obedece a um recolher noturno entre a 1 hora e as 6 horas. As discotecas estão fechadas, os restaurantes estão limitados a 50% da lotação e lojas, ginásios e teatros a 70%. As reuniões sociais só podem juntar um máximo de 10 pessoas. Apesar das restrições, os espanhóis não vão abdicar de comemorar a chegada dos Reis Magos, esta quarta-feira, em desfiles por todo o país.
Em França, numa altura em que as infeções começaram a duplicar a cada dois dias, o ano de 2022 começou com novas restrições. A partir de 3 de janeiro, o teletrabalho passou a ser obrigatório. Os ajuntamentos em ambientes fechados foram limitados a duas mil pessoas e a cinco mil no caso de serem ao ar livre. As discotecas estão fechadas e sem previsão de reabertura e os cafés e bares só podem fornecer serviço de mesa. O uso de máscara é agora obrigatório nos centros das cidades. Ainda na terça-feira, o país identificou uma nova variante do coronavírus que causa a covid-19, a IHU.
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Já a Alemanha também anunciou novas medidas depois do Natal por causa da variante ómicron: encerrou os ginásios, piscinas, discotecas e cinemas e, neste momento, até 10 pessoas vacinadas podem estar juntas sem restrições.
O Reino Unido é um dos países mais atingidos pela pandemia na Europa, com quase 150 mil mortes e mais de 200 mil novos casos todos os dias. Mais de um em 20 britânicos teve covid-19 na última semana de 2021, a maior taxa de infeção registada durante toda a pandemia.
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Apesar do aumento crescente dos novos casos, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson optou por não introduzir mais restrições em Inglaterra, argumentando que os níveis de hospitalizações e doenças graves ainda não exigem essas medidas. O Governo recomendou, porém, que os alunos usem máscaras nas salas de aula, sublinhando que é uma "medida temporária".
Outras regiões do Reino Unido não seguiram o mesmo método. Edimburgo, Cardiff e Belfast implementaram restrições a grandes eventos após o Natal. A Escócia encerrou também os bares e limitou os ajuntamentos.