A diferença entre sentir que tem uma "carteira curta" ou ser candidato a "grande proprietário" na compra de uma casa começa na cidade escolhida. A imobiliária "Century 21" fez um estudo mundial sobre o que é possível comprar com 300 mil euros. Com este valor, o JN Urbano olhou para o cenário nacional e identificou contrastes evidentes entre os valores do mercado.
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Com 300 mil euros é possível comprar uma casa quase do tamanho de um palácio (600 metros quadrados) na Cidade do Cabo, África do Sul, ou um minúsculo estúdio (18 m2) em Londres, Inglaterra. E em Portugal? Se pensa adquirir um espaço no Centro Histórico de Lisboa ou Porto com este valor não se entusiasme e vá pensando em como acomodar-se em dimensões reduzidas. O mais provável é não conseguir mais que um T1, ou no máximo um T2, em ambos os casos com áreas que não irão muito além dos 90 m2. Os preços vão reduzindo à medida que se afasta do anel central, muito embora estejam em forte alta até mesmo nas zonas suburbanas.
Ainda que não constitua novidade, a diferença de valores das grandes cidades para as de média dimensão, ou do litoral para o interior, é assinalável. Recorrendo à oferta da Century 21, é possível encontrar uma moradia geminada em Seia, com 298 m2, por 50 mil euros. Feitas as contas, com os tais 300 mil euros com que pagaria um T1 no centro de Lisboa ou Porto, pode adquirir seis vivendas na cidade da Beira Alta.
"Com a pressão interna do mercado e com muitos visitantes estrangeiros a dormirem nas maiores cidades, há uma transferência do edificado, que faz com que haja mais gente nas cidades mas menos imóveis disponíveis para venda", explica ao JN Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Ibéria, associada da imobiliária responsável pelo estudo mundial. Este, no caso de Portugal, diz que com 300 mil euros é possível comprar uma casa de 97 m2 no Porto e de 85 m2 em Lisboa.
Porto é "impressionante"
A escassa diferença entre as duas principais cidades é, aliás, uma das realidades que chama a atenção dos analistas. Se, há uns anos, a diferença de preços era enorme, o crescimento da atratividade do Porto fez com que a cidade se aproximasse a passos largos da capital, a ponto de já integrar estes "rankings" e estudos internacionais. "O Porto mudou claramente de escala", aponta Ricardo Sousa, classificando de "impressionante" a forma como a procura pela Invicta tem crescido. "Nos nossos encontros internacionais é uma evidência. A questão do potencial turístico do Douro foi naturalmente muito importante, tal como o crescimento do aeroporto e as novas rotas", destaca.
O efeito Segunda Circular
Olhando em pormenor para estas duas realidades, a primeira conclusão é que comprar uma casa no Centro Histórico, com 300 mil euros, não é fácil. "Mesmo no Porto, já é um desafio", aponta o CEO da Century 21 Iberia, até porque, diz, "o centro da cidade é mais pequeno e não há tanta oferta como em Lisboa". O anel entre a Baixa e o rio ou a Foz, zonas premium por excelência, é a zona onde não dá para comprar casas muito espaçosas. Mas, à medida que nos afastamos para a periferia da cidade, o horizonte alarga-se. Em Gondomar, por exemplo, já é possível com este valor comprar um T4 de 183 m2. E se a escolha for um T2 em Rio Tinto (preço a rondar os 100 mil euros) já dará para comprar três apartamentos.
Na Área Metropolitana do Porto, os valores mais baixos são em Baguim do Monte, onde com 300 mil euros é possível comprar uma vivenda V4+1.
Já em Lisboa, mantendo-se o mesmo cenário na Baixa, é o anel entre a Segunda Circular e o Tejo que alberga as propriedades mais caras. "O máximo que se consegue é um T2 e não muito grande", diz Ricardo Sousa.
O cenário muda quando se cruza a Segunda Circular, já sendo possível chegar a um T3 mais espaçoso com 300 mil euros. E se a opção recair para concelhos limítrofes, como Amadora ou Odivelas, a oferta alarga-se para os T4. Já em alguns locais da margem sul do Tejo poderá até encontrar-se uma moradia dentro deste valor.
Centro de Braga está na moda
Deixando Lisboa e Porto, e olhando para as cidades de segunda linha, Braga destaca-se pela crescente procura de estrangeiros, sobretudo brasileiros, que escolhem a cidade minhota para viver. "Aqui, o centro está na moda", diz Carlos Pinheiro, da Remax Liberty Braga. Explica que, dentro do orçamento definido, é possível comprar um T3 de 140 m2 no núcleo histórico, embora sem garagem, devido às características do terreno. "Mas se quiser afastar-se três ou quatro quilómetros, já pode chegar a um T5, a estrear, com acabamentos de luxo", refere. No caso de uma freguesia rural, então poderá encontrar uma vivenda recente com três pisos.
Outra zona de contrastes evidentes é o Algarve, onde 300 mil euros podem dar para muito, ou... para nada. "Na Quinta do Lago é impossível comprar qualquer casa e em Vale de Lobo muito difícil. Mas, se a opção for a zona central ao redor de Albufeira, já poderá dar até para uma vivenda geminada", revela Rodrigo Violante, da KW Flash Alcantarilha.
Ainda no Algarve, se a escolha for Vilamoura, pode ir até um T3 com muito boas condições (140 m2) e se a opção for um concelho mais interior pode mesmo comprar dois bons apartamentos com este orçamento. "Até na cidade de Faro, com 300 mil euros, será possível comprar uma vivenda", diz Rodrigo Violante.
Olhando o resto do país, o panorama não é muito diferente. Aveiro é outra das zonas em destaque. Na Quinta do Casal, perto do centro, é possível encontrar um T3 de 114 m2 por 135 mil euros. Ou seja, com o orçamento definido, daria para comprar dois apartamentos e ainda sobrava dinheiro. Mais afastado da capital de distrito, em Esgueira, o mesmo valor dá para comprar uma vivenda de 450 m2.