No calor dos acontecimentos, aquela que ficou conhecida como a Revolução dos Cravos foi descrita, pelo "Jornal de Notícias", como sendo "um dos momentos mais sérios da atualidade", que irrompeu pela madrugada e tornava impossível que as primeiras horas da manhã trouxessem uma "imagem nítida" do que se passava na capital do país, apesar de um comunicado do Movimento das Forças Armadas (MFA) que ia sendo transmitido a cada meia hora pelo Rádio Clube Português.
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Os acontecimentos da madrugada de 25 de abril de 1974 obrigaram a uma edição especial, com um esclarecimento logo na primeira página: "O "Jornal de Notícias" tem de principiar por dar aos leitores a imagem de uma determinada confusão que reina no momento em que elabora a presente edição". E acrescentou: "Às 9 horas e meia, era ainda impossível obter-se uma imagem nítida da evolução dos acontecimento. Portanto, não poderemos, de modo algum, dar para já notícia perfeita do que aconteceu em Lisboa e, aparentemente, aí se circunscreveu". Ainda assim, era claro para o JN: "O país vive, desde a madrugada de hoje, um dos momentos mais sérios da atualidade".
Nas páginas seguintes, o JN dava conta do clima em várias cidades, do encerramento dos aeroportos e dos apelos do MFA para que não houvesse derramamento de sangue. "Subitamente na madrugada, o Rádio Clube Português (que transmitia um programa do "Porão da Nau", em Lisboa) passou a transmitir marchas militares e, por volta das 4 horas da manhã, surgiu o primeiro comunicado", conta.
E o que dizia esse comunicado do movimento dos generais António de Spínola e Costa Gomes, que foi difundido entre as 4 e as 8 horas, entre canções de Paulo de Carvalho e Zeca Afonso?: "Informa-se a população que, no sentido de evitar todo e qualquer incidente deverá recolher a suas casas, mantendo absoluta calma". Às forças de segurança, lembrava-se "o dever cívico de contribuírem para a manutenção da ordem pública", o que, só poderia ser "alcançado se não for oposta qualquer reação às Forças Armadas". Ainda assim, pedia-se a médicos e enfermeiros "para se apresentarem nos hospitais".
O "movimento revolucionário militar" conseguiria os seus propósitos. O presidente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano, refugiou-se no quartel do Carmo, de onde saiu sob escolta do capitão Salgueiro Maia, rumo ao exílio. Estava derrubado o regime ditatorial do Estado Novo, implantado em 1926, sem qualquer derramamento de sangue.