Universidade de Aveiro: do treino médico dos cirurgiões ao estudo do cancro e envelhecimento
Universidade de Aveiro tem cursos e vários projetos que não dispensam o uso de ratos e ratinhos. Em 2017, criou um biotério que enriquece ambiente para aumentar bem-estar.
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Em Aveiro, os futuros médicos-cirurgiões podem aperfeiçoar as técnicas de que vão necessitar para exercerem a profissão, treinando em ratos de laboratório. "Precisamos dos animais porque os médicos têm de reconstituir, por exemplo, a ligação entre artérias, veias e nervos, porque é o que vão fazer nas cirurgias a pessoas. Precisam de treinar para que a ligação fique bem", explica Sandra Rebelo, da Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro (UA).
Evita idas a Barcelona
Quem quiser terminar a especialidade médica de cirurgia plástica, frisa a docente, "tem de ter um curso avançado destes". Até há poucos anos, estes profissionais "iam fazer a formação a Barcelona", porque em Portugal não havia condições. Este é um projeto de "não recuperação", adianta Sandra Rebelo.
Os ratos "são colocados em plano anestésico profundo, em permanência. Há sempre uma equipa a supervisionar, a acautelar que estão sempre sob anestesia para garantir que não estão a sofrer durante o procedimento". Mas há mais dois projetos com animais a decorrer na UA.
Na área da oncologia, Bruno Jesus está a testar terapias contra cancro. "Estamos a tentar treinar o sistema imune do ratinho para reconhecer os tumores que são provocados para ver se ele consegue criar uma resposta imune contra os tumores", conta, ao JN.
De acordo com o investigador, há muito cuidado no uso de animais. "Temos que usar o mínimo para ter resultados fidedignos e estatisticamente significativamente. Não podemos usar de forma desnecessária, mas tem de haver um mínimo para não haver dúvidas" em relação aos resultados.
Neste tipo de investigações, sublinha, "não é permitido uma repetição de algo que já foi feito", tendo sido aproveitada a base teórica de outros estudos para conceber aquele. Até ao final da experiência, deverão ser usados cerca de 40 ratinhos, sujeitos a uma experiência com um grau de severidade ligeiro a médio.
Na área do envelhecimento, a professora Margarida Sousa está há dois anos a estudar a interação entre o envelhecimento e a flora intestinal para perceber como a flora pode "causar alguns dos fatores ligados ao envelhecimento".
Para o seu trabalho, o uso de ratinhos traz muitas vantagens. "Têm um tempo de vida de cerca de três anos, o que permite, num período de tempo muito mais curto, estudar o que vai acontecendo à medida que os animais vão envelhecendo", revela, acrescentando que reutiliza animais que são usados em biotérios como procriadores.
Para poder realizar estas experiências, a UA tem, desde 2017, um biotério. É ali que os ratinhos e ratos permanecem. Fátima Camões, do biotério, realça que há grande preocupação com o bem-estar destes roedores. "Procuramos melhorar os procedimentos e que os animais tenham um bem-estar maior, enriquecendo a caixa onde estão", ou seja, colocando tubos de cartão e outros objetos para que possam ter um ambiente mais próximo do natural e construam ninhos, procurem refúgio e tenham mobilidade. O estado de saúde é supervisionado e procura-se "minorar o sofrimento, caso exista, indo ao encontro das diretivas nacionais e europeias".