Transmitir o novo coronavírus mesmo depois de ser vacinado contra a covid-19 pode ser possível, alertam os especialistas. Daí que quem for imunizado deva manter os mesmos cuidados que tinha até então como usar máscara e respeitar o distanciamento social.
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Esta quarta-feira, foi conhecido que um enfermeiro norte-americano, de 45 anos, testou positivo ao novo coronavírus, uma semana após ter tomado a primeira dose da vacina da Pfizer/BioNTech contra a covid-19. Mas a notícia, que correu o Mundo rapidamente, não apanhou de surpresa a comunidade científica, que considera o caso expectável.
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"Isso acontece com quase todas as doenças infecciosas. Muito provavelmente, já estava a incubar o vírus quando foi vacinado", explica ao JN o infecciologista Jaime Nina. O período de incubação do SARS-CoV-2 pode ir até aos 14 dias.
Por outro lado, o especialista recorda que a vacina em questão só começa a produzir algum efeito ao fim de uma semana ou mais dias da toma da primeira dose. Dá-se então uma "subida sustentada de anticorpos, que entra em fase de planalto por volta da terceira ou quarta semana" após a inoculação. É nessa altura em que se "administra a segunda dose da vacina para se manter a proteção", explica. "Para se ter uma proteção completa leva algum tempo".
Também para o virologista Pedro Simas, o caso do enfermeiro norte-americano é normal, dado o longo período de incubação do vírus SARS-CoV-2 e serem "precisos 10 dias para a vacina começar a fazer efeito". Porém, admite outra explicação. A vacina da Pfizer/BioNTech "é 95% eficaz a proteger da doença sintomática ou grave, mas ainda não se sabe a sua eficácia quanto às infeções assintomáticas", explica o especialista do Instituto de Medicina Molecular. Simas acredita que nestes casos, "em princípio, é eficaz em pelo menos 50%", pelo que será necessário vacinar mais gente para se conseguir a imunidade de grupo.
Continuar a respeitar as regras
Estamos no início do fim, mas estamos na fase mais perigosa, porque há mais vírus
É por isso que alerta para o facto de que quem tomou a vacina deve continuar a proteger-se a si e aos grupos de risco, respeitando as regras como o uso de máscara e o distanciamento social, pois poderá ser portador e transmissor do vírus. "Uma pessoa assintomática pode continuar a transmitir o vírus mesmo que tenha sido vacinada", diz Pedro Simas.
Neste momento, o importante é usar a vacina para se "salvar vidas" durante a pandemia, ressalva. "Estamos no início do fim, mas estamos na fase mais perigosa, porque há mais vírus a circular, por todo o país. Estamos num planalto muito alto do número de infetados, esta quarta-feira voltámos a atingir os seis mil casos positivos e, entretanto, dá-se o regresso às aulas, ao trabalho...", alerta Pedro Simas.
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Saber mais daqui a um ano
Para Jaime Nina, essa grande questão quanto à possibilidade dos vacinados poderem continuar a transmitir o novo coronavírus só deverá ter uma resposta dentro de um ano, com base em mais ensaios clínicos. Até agora a Pfizer e a BioNTech só avaliaram se as pessoas testadas com a sua vacina tinham ou não covid-19 clínico, isto é, se desenvolveram a doença.
O infecciologista recorda o caso de sucesso da vacina contra o Ébola através da imunização dos contactos dos infetados: "O efeito sob a transmissão foi de tal ordem, que conseguiram parar o surto no Congo, vacinando todos os contactos".
Acredita-se que a vacina contra a covid-19 proteja contra a doença durante pelo menos meio ano. "Seis meses é a previsão mais pessimista, mas ainda não se sabe quanto tempo será a sua proteção", diz Jaime Nina.
A norma da Direção-Geral de Saúde relativa à administração da vacina Comirnaty, desenvolvida pela Pfizer e BioNTech, estabelece que as duas doses desta vacina devem ser tomadas com um intervalo de 21 dias.
A vacina começou a ser administrada este domingo aos profissionais de saúde, naquela que é a primeira fase de vacinação contra a covid-19 no país.