Uma associação de Viana do Castelo tem 60 homens e mulheres, em postos de vigilância. Da equipa fazem parte um especialista em resgate no mar e na neve, que trabalha na praia no verão e numa pista de esqui na alta montanha, no inverno. E mais 39 heróis com histórias de salvamentos para contar.
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"Verne! Olha, vou ter que sair com a mota, porque há um homem que está lá fora (no mar) com um "kite" e não consegue sair. É na zona do Cabedelo. Não sei se é grave". "Maruga, sai com a mota, que eu vou pela areia, está bem?".
Foi a partir deste diálogo ao telemóvel numa manhã de agosto, que Pedro Verne, com 39 anos, paramédico, que dá apoio com uma pick-up Mitsubishi a 40 nadadores-salvadores em 13 praias de Viana do Castelo, avançou a grande velocidade para mais uma das suas missões. O especialista está habituado ao risco. No verão vigia e salva nas praias, mas no inverno integra uma equipa de resgate numa pista de esqui em alta montanha nos Pirenéus.
O JN acompanhou-o por algumas horas e seguia no veículo todo-o-terreno, numa ação de patrulhamento da costa, quando surgiu a situação de emergência no Cabedelo. Pedro circulava na EN13, entre Afife e Viana, e tentou ultrapassar a grande velocidade um trânsito cerrado. Apesar de usar sinais sonoros, a tentativa de chamar a atenção dos automobilista revelou-se, por vezes, inglória e desesperante. Mas o caso acabou bem: um praticante de kitesurf suíço que se viu em apuros no mar, depois de cair na rebentação, quando a vela do seu equipamento se rompeu, desenvencilhou-se sozinho e conseguiu sair da água pelo próprio pé. A intervenção de Verne e do nadador-salvador Maruga não chegou a ser necessária. Mas nem sempre é assim.
Há perigos. Às vezes invisíveis, tanto é que as pessoas se afogam. É preciso ter muita atenção à zona dos agueiros
Pedro faz parte da associação "Coordenada Decimal", fundada em 2015 por Ricardo Santos e Isaías Barbosa, e que tem um total de 60 elementos a trabalhar "10 horas por dia", nas praias de Viana (40), e em zonas balneares de Caminha e Esposende (os restantes 20). Na costa vianense, além de apoio por terra com a carrinha guiada por Pedro Verne, acompanhado por um segundo elemento, a associação também tem uma mota de água e uma pequena embarcação de resgate que operam a partir do Cabedelo.
Procurada por milhares para a prática de desportos náuticos, principalmente surf, winfsurf e kitesurf, aquela é das praias com maior número de ocorrências. Outra das zonas mais preocupantes, pela sua perigosidade, devido aos agueiros, e onde ocorrem mais incidentes, é a praia da Arda, em Afife. De resto, diz Pedro Verne, basta haver mar, para serem necessários todos os cuidados: "Há perigos. Às vezes invisíveis, tanto é que as pessoas se afogam. É preciso ter muita atenção à zona dos agueiros.
Rui Albuquerque, na praia da Amorosa, um domingo de julho: "Uma senhora quase se afogou. E ele apercebe-se, liga-me: "Verne, por favor, anda rápido que está uma pessoa na zona das pedras a afogar-se. Está a ser arrastada"". A colega que seguia comigo na carrinha entrou e depois também com a ajuda de dois surfistas, conseguiu-se resgatar a senhora, que bebeu uns goles de água".
O dífícil salvamento de banhista alcoolizado
João Afonso, de 21 anos, estudante de Gestão e de Desporto, nadador-salvador há quatro anos, recebeu, juntamente com outro colega, Alexandre Rego, uma medalha do ISN, por ter arriscado a vida num salvamento em 2017 na praia de Afife. Resgataram um romeno obeso e alcoolizado.
"Inicialmente ele estava com a água pelo umbigo e eu fui lá, por descargo de consciência, para o avisar para vir para terra, mas entretanto quando dei por ela já estávamos longe. Entramos numa zona de agueiro, as tais correntes que não são visíveis, e foi muito complicado, porque ele não ajudava. Não nadava, não estava consciente devido ao álcool", conta João, lembrando: "Foi um aperto muito grande, mas depois através dos nosso meios de salvamento, com a ajuda de alguns surfistas e de banhistas, conseguimos. Espero nunca mais passar por um salvamento daqueles. Na altura pensei: isto não é para mim. Mas no dia a seguir já estava na praia outra vez". E a medalha? "É um orgulho. Uma honra e uma motivação para continuar um bom trabalho, que é salvar vidas", diz João.
Nunca soube muito bem o que queria, mas ver aquela equipa de resgate na alta montanha e aquilo fascinou-me
A história de Pedro Verne de 39 anos, começa em criança, a fazer montanhismo com o pai. "O querer crescer no alpinismo encurralou-me. Assim que pude, aos 19 anos, peguei numa mochila e lá fui para os Pirenéus. Fui lavar retretes e panelas. Nunca soube muito bem o que queria, mas ver aquela equipa de resgate na alta montanha e aquilo fascinou-me", conta.
Durante oito anos, lutou para integrar o grupo de elite alvo da sua admiração. Fez cursos de socorrismo e estágios de observação como voluntário no INEM, e acabou por conseguir, quando já tinha desistido da ideia e regressado a Portugal. A trabalhar como nadador numa praia de Viana, ajudou a salvar uma mulher, que, quis o destino, fosse a namorada de um dos elementos da equipa de resgate nos Pirenéus. No outono, houve uma baixa no grupo e chamaram-no