Daniel Sampaio apoia limites no uso da Internet, mas é contra o controlo móvel.
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Psiquiatra, professor jubilado e conhecido escritor, há muito que Daniel Sampaio estuda a relação entre pais e filhos. Ao JN, debruça-se sobre as fronteiras que devem existir na utilização de software de monitorização remota.
Que opinião tem sobre a utilização das aplicações de controlo parental?
A chave da educação bem sucedida é conseguir um equilíbrio entre controlo e autonomia, tendo em conta a idade e maturidade emocional da criança ou adolescente. Assim, o controlo deve diminuir à medida que a adolescência progride no percurso para a autonomia.
Que regras defende para a sua utilização?
Na educação, tudo deve ser falado e discutido e os pais nunca se devem demitir de veicular valores e negociar (não impor) regras. No que diz respeito à utilização da internet, a educação deve, desde muito cedo, preocupar-se com os limites e horários da sua utilização, de modo a que a criança interiorize que não pode ter uma utilização sem limites. Sou, por isso, a favor de um controlo parental das horas de internet, que se deve definir em diálogo com os filhos. Quanto ao telemóvel pessoal (que só deve existir depois dos 10 anos) sou contra o controlo parental. Trata-se de um aparelho muito importante para os jovens, que é pessoal e intransmissível.
Há fronteiras inultrapassáveis?
A fronteira que não deve ser ultrapassada é a da intimidade. Os pais que espiam os filhos têm sempre surpresas desagradáveis. É melhor falarem sobre os riscos, os perigos e as surpresas que se encontram na net.
Que conselhos dá aos pais que as usam?
Aconselho a que deixem a espionagem e percam uma noite a falar com o filho.
Quais as consequências do mau uso para a relação familiar e parental?
A minha vasta experiência clínica com pais que espiam os filhos demonstra que os prejuízos são muitos. Os filhos acabam sempre por descobrir e isso dá origem a conflitos. Os pais ficam com a ideia de que os filhos têm problemas, quando têm comportamentos normais. Por exemplo, quando os pais descobrem, à socapa, que os filhos (sobretudo rapazes) veem pornografia, acham isso terrível, quando afinal isso se passa com quase todos. Mais valia sentarem-se ao lado dos filhos e explicar que essa sexualidade não corresponde à das pessoas vulgares.
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