O presidente da República afirmou que o Parlamento deve clarificar "se quer manter em funções o Governo", pois "há quem questione a capacidade para fazer as mudanças indispensáveis".
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"Mais de cem pessoas mortas em menos de quatro meses nos fogos em Portugal é um peso enorme na minha consciência e no meu mandato presidencial", considerou Marcelo Rebelo de Sousa, numa declaração ao país sobre o impacto dos incêndios florestais de junho em Pedrógão Grande e do passado domingo na região Centro.
O chefe de Estado prometeu que "estará atento e exercerá todos os seus poderes para garantir que onde existiu ou existe fragilidade, ela terá de deixar de existir".
"É a melhor, se não a única forma de verdadeiramente pedir desculpa às vítimas de junho e de outubro - e de facto é justificável que se peça desculpa", acrescentou ainda o presidente da República, depois de descrever o sofrimento das populações afetadas, os que "estiveram sozinhos a resistir" no combate às chamas, os que "morreram em casa", os que conseguiram escapar "com os toques do sino da igreja como acontecia há cem anos". "Portugueses houve que não viram os poderes públicos como garante de segurança e confiança", frisou.
Há quem questione a capacidade do atual Governo (...) então (...) que a mesma Assembleia, soberanamente, clarifique se quer ou não manter em funções o Governo
Marcelo afirmou ainda que espera do Governo "que retire todas, mas todas as consequências da tragédia de Pedrógão, à luz das conclusões dos relatórios", conforme "se comprometeu" a fazer.
E o que pode dizer o presidente da República? "Pode e deve dizer que é tempo de reconstruir" mas também "pode e deve dizer se, na Assembleia da República, há quem questione a capacidade do atual Governo para realizar estas mudanças que são indispensáveis e inadiáveis" - afirmou num tom duro - "então - nos termos da Constituição - que a mesma Assembleia, soberanamente, clarifique se quer ou não manter em funções o Governo, condição essencial para, em caso de resposta negativa, se evitar o equívoco", acrescentou, referindo-se à moção de censura hoje anunciada pelo CDS-PP. "E na resposta positiva, reforçar o mandato para as reformas inadiáveis", sublinhou.
"Pode e deve dizer que estará atento e exercerá todos os seus poderes para garantir que aquilo que existiu ou existe de fragilidade, ela terá de deixar de existir", defendeu. "E que não será mais possível, ano após ano, se garantir segurança para ter de reconhecer no ano seguinte que ela não é possível confirmar-se", criticou. "Pode e deve dizer que é tempo de reconstruir. De iniciar um novo caminho. De acreditar no futuro, na base da mudança em relação ao passado".
É tempo de reconstruir. De iniciar um novo caminho. De acreditar no futuro, na base da mudança em relação ao passado
"Para mim, como presidente da República, mudar de vida neste domínio é um dos testes decisivos ao cumprimento ao mandato que assumi. Nele me empenharei totalmente até ao fim desse mandato", garantiu Marcelo Rebelo de Sousa, relembrando "os mais de cem portugueses que tanto esperavam da vida no início do verão de de 2017 e não chegaram aos dias de hoje".