Infarmed autorizou, no ano passado, seis ensaios. Hospital de S. João, no Porto, participa em consórcio europeu de investigação.
Corpo do artigo
A Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) recebeu, em 2020, seis pedidos de ensaios clínicos na área de tratamentos covid. Todos foram autorizados, com a previsão de inclusão de 1441 participantes. Em causa, estudos que testam a eficácia de diferentes tratamentos para a doença. O Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, é uma das instituições nacionais aderentes às investigações para criar medicamentos contra a covid.
Naquele que foi o ano com o maior número de sempre de ensaios submetidos, o Infarmed autorizou três investigações de natureza comercial (indústria farmacêutica) e outros três de promotores académicos. Entre os quais, os ensaios Solidarity, promovido pela Organização Mundial de Saúde (com 12 mil doentes de 30 países); o Recovery, da Universidade de Oxford, (cerca de 40 mil participantes); e o DisCoVeRy, do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (INSERM, França). Realizando-se tratamentos experimentais contra a covid com fármacos usados para outras patologias.
Como aconteceu, recorde-se, com a dexametasona, medicamento corticosteroide. Com o Recovery Trial a demonstrar o benefício do uso daquele fármaco em doentes covid ventilados. Perante os resultados do ensaio, a Agência Europeia do Medicamento autorizou, em meados de setembro, o uso do fármaco em doentes em terapia de oxigénio suplementar. Ou, em sentido inverso, quando os resultados do Solidarity Trial demonstraram que o Remdesivir tinha pouco ou nenhum efeito sobre a mortalidade geral dos doentes covid hospitalizados, levando a OMS a não aconselhar o seu uso.
Centro recrutador
O Hospital de São João é a única instituição portuguesa a integrar o EU Response, consórcio europeu lançado em julho passado e coordenado pelo INSERM. "É uma plataforma de investigação na área das doenças infecciosas, nomeadamente nesta fase da pandemia", explica, ao JN, José Artur Paiva, diretor do Serviço de Medicina Intensiva do S. João e coordenador nacional dos ensaios clínicos DisCoVery e SolidAct.
O DisCoVery, revela, vai entrar na fase III, depois de terem "sido testadas terapêuticas inovadoras para a covid, em fase de publicação de resultados". Neste ensaio, garante, o São João "foi um bom centro recrutador". Tudo assenta em "estudos adaptativos, num conceito inovador: pega-se num fármaco que já existe e usa-se para outra doença". Confirmando-se o "benefício, pode ser integrado no tratamento normal".
Com financiamento comunitário, o EU Response avança agora para o SolidAct, ensaio adaptável para doenças infecciosas emergentes, visando melhorar a capacidade de resposta a crises pandémicas. Em Portugal, está em fase de submissão e "terá mais participantes do que o DisCoVery", explica o coordenador. Numa "dimensão fascinante", vinca José Artur Paiva. "Porque gera conhecimento e melhora o acesso do doente a terapêutica de investigação".