Hoje falamos aqui de The Smiths e da partida inesperada do seu baixista.
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A atualidade pode esperar (pelo menos mais uns nove parágrafos): a esta hora já saberá da tristeza, morreu Andy Rourke, o baixista da banda pop inglesa The Smiths. Tinha apenas 59 anos.
Andy morreu de cancro no pâncreas, o temível "tumor silencioso" que avança em pessoas cada vez mais jovens - no passado, afetava sobretudo indivíduos aos 70 anos, mas na última década está a aumentar em doentes de 40 e 50 anos.
Segundo a Globocan, base de dados da Organização Mundial de Saúde, houve 495 mil novos casos de cancro no pâncreas em 2020, resultando em 466 mil mortes, dado que corresponde à 7.ª causa de mortalidade por cancros em todo o mundo - o cancro colorretal e o cancro da mama são as doenças oncológicas com mais diagnósticos em Portugal, mas o cancro do pulmão continua a ser o mais mortífero.
O som dos The Smiths, banda que existiu só seis anos (!), de 1982 a 1987, mas que marcou com ferros ferventes todo o horizonte pós-punk da música popular até hoje, era dominado pelas escolhas líricas do vocalista Morrissey e pelos intrincados acordes da meiga e melosa guitarra pop de Johnny Marr. Mas eram as linhas de baixo propulsivas de Andy Rourke que cosiam toda a secção rítmica da banda e contribuíram para criar o som singular dos Smiths.
Como a memória de quem fica é a única forma de imortalidade de quem parte, hoje - e sempre - será dia de recordar os bordados melódicos onde mais sobressai o ágil baixo funky e magistral de Andy Rourke.
Três canções bastarão.
Primeira: "The Queen is dead". O biógrafo da banda, Tony Fletcher, argumenta que Andy Rourke "produziu algumas das suas melhores performances" quando a banda gravou o 3.º disco, "The queen is dead". Diz ele (citado pela revista "Far Out"): "Nem o tema-título nem 'Cemetery gates' teriam soado tão eficazes sem a contribuição do baixo de Andy". Andy concorda (citado em 2016): "O Johnny [Marr] fez-me sentir especial. Ele disse que era uma das melhores linhas de baixo que já tinha ouvido e eu fiquei todo inchado". Confirme no YouTube e preste atenção às proezas do toca-e-foge deste baixo.
A segunda é "Cemetery gates", canção em que Andy Rourke e Johnny Marr estão no pico dos seus poderes. Rourke quase ofusca a complexa manta melódica do célebre guitarrista porque simplesmente se recusa a tocar as notas tónicas dos acordes e, em vez disso, encontra melodias intermédias ainda mais impressionantes. Ouça aqui.
Pormenor sem importância: nesta altura, 1986, Andy Rourke foi brevemente expulso da banda devido à sua crescente adição à heroína. Mas voltou a tempo de gravar "The queen is dead", obra-prima dos Smiths que é um testemunho duradouro da Inglaterra dos anos 1980 e do êxtase do vazio existencial de então.
Terceiro tema para a imortalidade pop de Andy Rourke: "Heaven knows I"m miserable now". Aqui, o baixista toca um delicioso crescendo no verso antes de o resumir a três notas no final de cada compasso. Perto do final do verso, desacelera para que a guitarra possa fulgir em todo o esplendor, dando ao tema toda a sua profundidade. Ora ouça
O resto do mundo a esta hora
Últimas da Operação Babel: funcionários da Câmara do Porto suspeitos de corrupção saem em liberdade.
Mais desta investigação: a Câmara de Gaia nega "qualquer influência" e diz que rejeitou mobilidade de funcionário.
E mais ainda: ministro da saúde admite que falou com autarca de Gaia, mas nega favorecimento de funcionário.
Economia: aqui há boas notícias. Mundo: aqui há más notícias sobre a guerra na Ucrânia. E aqui, as notícias são péssimas para Myanmar: subiu para 145 o número de mortos após a passagem do ciclone Mocha
E aqui, e é das notícias mais lidas no nosso site, há uma portuguesa que acelerou demasiado (e também terá bebido de mais) na Suíça
Atenção: é um alerta da Autoridade Tributária.
Se não viu, veja: o nosso programa semanal em vídeo "Alegações Finais", que é alternadamente conduzido pelos jornalistas Alexandre Panda e Roberto Bessa Moreira, revela hoje casos de crianças de 8 anos que são violadas reiteradamente e depois forçadas a casar. Acontece em Portugal.
A denúncia é feita pelo inspetor-chefe da Polícia Judiciária Sebastião Sousa, que nos explica como é que crianças compradas na Roménia e Bulgária são transformadas, já em Portugal, em escravas domésticas.
Por fim, está amanhã pelo Porto? Então não perca a "Maratona dos teclistas" na Casa da Música, que este fim de semana presta homenagem a Helena Sá e Costa, a "pianista de todos os pianistas".
Bom fim de semana. Volte sempre.