Contrafações na Rússia e em Itália. Indignações na Finlândia. Uma central nuclear que vacila. E um parque nacional em que nos podemos perder e reencontrar, longe da tolice.
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Alguns dias são mais invadidos por paraísos artificiais do que outros. Esta sexta-feira, por exemplo, é um esmero da contrafação. Seguindo o exemplo de empreendedorismo dos nossos compatriotas de cujas furgonetas brotavam (brotam?) produtos Ardidas ou Luís Vitton, abriu hoje em Moscovo o primeiro estabelecimento da Stars Coffee. Empresários locais adquiriram as 130 lojas da cadeia americana Starbucks (que fechou portas na Rússia assim que o regime de Putin invadiu a Ucrânia), remisturaram vogais e consoantes, trocaram a sereia de Seattle por uma rapariga com um chapéu tradicional russo e, aparentemente, deram um sabor local ao menu. Junho já havia visto chegar à capital da Rússia os primeiros Vkusno i Tochka (Saboroso e Pronto), que tomaram o lugar da McDonald's.
Todavia, esta espécie de banha da cobra fica muito a dever aos inventores do Estado Teocrático Antártico de San Giorgio. Na Calabria, sul de Itália, 12 pessoas foram detidas por terem criado um Estado fictício e ludibriado umas 700 pessoas com promessas de fiscalidade paradisíaca e outros benefícios, colhendo 400 mil euros em prol de uma nação que teria nascido do Tratado da Antártida de 1959. (O tratado existe, o país não.) A polícia local, tão brilhante e poética como a nossa nos batismos (elogio), chamou a esta operação "A ilha que não existe".
Estas não são as únicas alucinações mais ou menos coletivas deste agosto quente. Na Finlândia, a primeira-ministra Sanna Marin entendeu submeter-se a um teste de drogas depois do furor e das críticas ao vídeo despejado na internet em que aparece, choquemo-nos, a dançar. Numa festa. "Confio que as pessoas entendam que o tempo de lazer e o tempo de trabalho podem ser separados", afirmou, e isso, num clima não infetado por seitas ultraconservadoras (que jamais ficarão satisfeitas com um ou 100 testes de drogas), deveria bastar.
Regresso à realidade. Na invasão da Ucrânia, que não foi a banhos, teme-se pela segurança da central nuclear de Zaporijia, a maior da Europa, tomada há meses pelas tropas russas. Hoje, António Guterres lembrou que a eletricidade produzida em Zaporijia "obviamente é ucraniana", numa reação à possibilidade de o regime de Putin desligar a central da rede elétrica da Ucrânia em proveito próprio. O inverno chega dentro de quatro meses.
Com a energia, festa e dança que se quiser e longe de falsificações, beatas de sacristia e, espera-se, incêndios, teremos sempre o Parque Nacional da Peneda-Gerês. Para este fim de semana quente ou para os vindouros, tome nota deste roteiro que lhe permitirá navegar por uma paisagem, património e sabores preciosos.