A quatro dias do Natal, esta sexta-feira foi tudo menos uma jornada de paz e concórdia. A Rússia atingiu a embaixada portuguesa em Kiev, mas foi uma praça de Lisboa que agitou as águas, ainda na continuação da operação policial que encostou dezenas de imigrantes à parede. A polémica está ao rubro.
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Martim Moniz, segundo a lenda, foi um cavaleiro que se distinguiu, na conquista de Lisboa, ao tempo do reinado de D. Afonso Henriques (1143/1185), ao sacrificar a própria vida para impedir que uma das portas do castelo se fechasse. Morreu entalado, longe de imaginar que o seu nome iria ser atribuído à praça mais multicultural do país, onde vivem agora, nove séculos depois, mouros, cristãos, hindus e uma série de outros credos. Lado a lado e em aparente harmonia.
E foi da Rua do Benformoso, ali mesmo ao Martim Moniz, que chegaram as imagens de agentes da polícia a encostar dezenas de imigrantes à parede, numa operação de fiscalização. Estalou o confronto ideológico entre os que aplaudem o reforço da segurança e os que agitam as bandeiras do racismo e da imigração ilegal. Esta sexta-feira, o presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo considerou que a operação policial de quinta-feira no Martim Moniz quis contrariar o "sentimento de insegurança que se diz existir", mas avisou que "imigração ilegal não é sinónimo de criminalidade".
E se dos partidos de Direita, sobretudo do Chega, chegaram os aplausos à operação, do outro lado da barricada, estalaram as críticas e a indignação, com a associação SOS Racismo a acusar o Governo de aplicar a "agenda de ódio da extrema-direita" ao "adotar políticas com o propósito específico de perseguir e afastar imigrantes".
A discussão rapidamente se expandiu a todo o país e o assunto, aliás, promete continuar a agitar as águas nos próximos dias. Esta sexta-feira, o líder do PS aproveitou a ocasião para ir almoçar precisamente ao Martim Moniz, onde gabou a refeição e a "simpatia" com que foi recebido. Pedro Nuno Santos manifestou-se "envergonhado e revoltado" com o executivo e a direção da PSP pela operação policial no Martim Moniz, considerando que este é o "Governo mais extremista" das últimas décadas da democracia portuguesa.
Violento foi mais um ataque russo à capital ucraniana, com mísseis, que desta vez atingiram também a embaixada portuguesa em Kiev, na Ucrânia. Um ato que o Governo português condenou "de forma veemente".
Ainda por cá, há um outro caso de violência, que não pode deixar de ser referido, pelos contornos hediondos que o marcaram. Trata-se da detenção de um homem de 24 anos pela Polícia Judiciária por suspeita dos crimes de ofensas à integridade física graves qualificadas e violência doméstica, com uso de força física, sobre um menino de três anos, seu enteado.
As principais notícias desta sexta-feira parecem assim completamente desenquadradas da época da solidariedade e fraternidade. Mas faltam quatro dias para o dia que assinala o nascimento de Jesus, as cidades estão cheias de luzes, os hipermercados abarrotar de gente, ávida de consumo. O bacalhau já está de molho e o JN cá estará, nas versões papel e online para lhe contar tudo o que vai marcar esta quadra. Boas leituras.