O objeto escolhido pelo músico, pianista e compositor.
Corpo do artigo
“Até cerca do ano 2000 não usei nenhum software de notação musical. Tinha já computador, mas não quis usar Finale. Só a partir de 2001/02 comecei a usar um outro mais intuitivo, Sibelius. Mas o facto é que as minhas partituras até essa data tinham sido escritas à mão: papel e lápis e depois fotocópias, o que equivalia a passar a tinta.
Por esse conjunto de razões a edição fac-simile da oratória Judas de 2002, bastantes anos mais tarde, encheu-me de satisfação. Atua como um registo único da minha caligrafia musical naqueles anos. Na verdade, nos três anos de 1987 a 1990 que passei na Holanda a estudar composição com Klaas de Vries em Roterdão, mas a viver em Amesterdão, uma das coisas que quis aprender rapidamente foi a escrita, literalmente e talvez não no sentido que Boulez atribui ao seu termo ‘écriture’, a meu ver, mais amplo.
Tinha já muitas partituras da Donemus de obras de Louis Andriessen, Otto Ketting e Klaas de Vries. Todas tinham sido escritas à mão e tinham uma qualidade excecional, idêntica a partituras editadas, mas cada uma com uma certa caligrafia. Era possível, com a ajuda de réguas para os traços de cima abaixo, escrever com grande clareza. É por essa razão que, por vezes, abro esta edição para me lembrar que em tempos eu escrevia desta maneira.”
António Pinho Vargas
Músico, pianista, compositor
73 anos