Projeto pioneiro vai desenvolver mecanismos para ajudar a recuperar recifes destes bivalves. Depois serão transplantados na ria de Aveiro.
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O Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro (UA) lidera um projeto pioneiro para tornar as ostras mais resilientes a doenças e ao stress e recriar em Portugal recifes deste tipo de bivalves, desaparecidos há muito devido à sobre-exploração e perda de habitat. Com benefícios ecológicos, mas também económicos. O RePor, que teve início há poucos meses, vai estender-se até ao final de 2026 e conta com um financiamento de cerca de 600 mil euros do programa Mar 2030.
"Existem vários projetos na Europa para tentar reabilitar recifes de ostras, mas focam-se nas condições ambientais e em evitar a sobrepesca. O RePor centra-se nas doenças e stress que afetam as ostras", explica Daniel Cleary, que coordena o projeto a partir do CESAM/UA e conta com a colaboração dos investigadores Newton Gomes e Susana Galante.
Para isso, os investigadores vão procurar modular o microbioma das sementes de Ostrea edulis, uma espécie nativa da Europa, assim como submeter estes bivalves a temperaturas altas, para promover o desenvolvimento de proteínas de choque térmico.
"Uma parte importante do projeto é tentar modular a comunidade microbiana das sementes de ostras", o que tem influência no "crescimento de bactérias benéficas que ajudam a proteger os animais contra organismos patogénicos e a reforçar a sua resposta ao stress", especifica Newton Gomes. O projeto tirará partido de uma plataforma, composta por malhas poliméricas porosas e biodegradáveis, que permite a libertação controlada de moduladores microbianos.
Numa fase inicial, os testes serão realizados em ambiente protegido, laboratório. Depois, os espécimes serão transferidos para ambiente real, nomeadamente para a ria de Aveiro, no município de Ílhavo, onde serão monitorizados. Os locais foram selecionados por terem "potencial para serem bem-sucedidos", detalha Susana Galante.
Daniel Cleary acredita que este poderá ser um primeiro passo, mas a recuperação dos recifes, que prestam diversos serviços ecológicos, será trabalho para várias "décadas". E carece de proteção, pelo que os produtores serão chamados a colaborar. Quando os recifes estiverem estabelecidos será possível retirar deles rendimento de forma sustentável, pois produzirão uma proteína saudável e com valor acrescentado.