Os Capitães de Abril que ainda estão entre nós devem ter ficado muito dececionados com a evocação deste 25 de Abril.
Corpo do artigo
A libertação das amarras do fascismo, corajosamente concretizada pelos militares de Abril, faz impender sobre todos nós a responsabilidade de garantir que a sua celebração anual seja um palanque para reavivar o sonho de um país mais coeso, mais solidário, mais ambicioso, mais moderno e mais desenvolvido.
A gravíssima situação que atravessamos exponencia esta necessidade.
Talvez este ano, como nunca, houvesse uma audiência significativa ávida de uma palavra de estímulo, de confiança; esperançosa numa leitura serena dos desafios que se avizinham e na forma como os poderemos ultrapassar.
Talvez este ano, como nunca, não só uma parte daqueles para quem o 25 de Abril ainda é um acontecimento próximo tenham sentido vontade de assistir às comemorações pela televisão.
Talvez este ano, como nunca, as novas gerações, que tomam a liberdade como garantida e o nível de vida confortável como uma herança, tenham percebido, pela paragem abrupta e violenta que lhes foi imposta, que tudo teve um começo e que há heróis para lá dos androides.
Talvez este ano, como nunca, a nossa história lhes tenha feito falta.
Infelizmente não fomos capazes de aproveitar esta oportunidade.
Iniciamos e prolongamos uma discussão estéril sobre a modalidade das celebrações, com lamentos impróprios e comparações absurdas. Toldamos por completo a transmissão das expectativas sobre o que gostaríamos de ouvir.
Pior. Os nossos representantes e os nossos governantes sucumbiram ao ruído e esgotaram as suas mensagens terçando autojustificações.
Nesse dia tão solene desperdiçamos o reviver da coragem, da esperança e da força de todos quantos fizeram o 25 de Abril.
Assistimos incrédulos à subserviência do discurso político face ao ruído amplificado pelas televisões e pelas redes sociais.
E, no entanto, a palavra "inteira e limpa" será sempre o primeiro passo para cumprir Abril!
Analista financeira