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A imigração ocupa hoje o centro das preocupações de vários atores políticos. Em diferentes geografias, a questão adquiriu uma centralidade tal que está já a chamuscar algumas lideranças. E a suscitar uma ampla atenção da opinião pública. "Time", "New Statesman", "l"OBS" são apenas alguns títulos que, esta semana, dedicam dossiês alargados ao tema. O que fazer com as nossas fronteiras? A resposta não será fácil de dar.
Numa opção de contraciclo, Portugal dispõe-se a receber todos os anos um número considerável de imigrantes. E a legalizar estrangeiros que se encontram entre nós sem cumprirem os requisitos habituais exigidos pela lei. Poder-se-ia ver aqui uma medida favorável à eleição do português António Vitorino como diretor-geral da Organização Internacional das Migrações, cargo a que concorrem igualmente um norte-americano e uma costa-riquenha. O país político teve, num passado recente, idênticos cuidados aquando da preparação da candidatura de António Guterres a secretário-geral da Organização das Nações Unidas. No entanto, por esta via também se procura equilibrar a população ativa e encontrar mão de obra para setores mais carenciados, não se negligenciando, por outro lado, a atração de pessoas qualificadas. Somos uma exceção. Porque em vários países este tópico está a incendiar governos. O caso da Alemanha é paradigmático.
Na edição desta semana, a revista "The Spectator" é radical em relação à chanceler alemã. "As cinzas de Angela", titula-se em capa, sob o rosto da senhora Merkel a desfazer-se impiedosamente. No texto, explica-se que em Berlim e em Bruxelas a autoridade daquela que outrora foi uma espécie de timoneira da Europa entrou em colapso devido, acima de tudo, à sua política de portas abertas em relação aos refugiados. Na verdade, Merkel parece cada vez mais cercada. Dentro de portas, Horst Seehofer, ministro do Interior e presidente do partido União Social Cristã (CSU) com quem a CDU se coligou para formar Governo, não é favorável à entrada e permanência de imigrantes no país, demonstrando simpatia pelas teses de Sebastian Kurz, o jovem e enérgico chanceler da Áustria, que defende com determinação as suas fronteiras. Há quem aposte que Merkel não sobrevive a um verão que será quente em território germânico. E que pode ser sobreaquecido a partir de Itália onde Mateo Salvini, o controverso vice primeiro-ministro e ministro do Interior, mais parece líder de um Governo que assume um antagonismo musculado em relação àqueles que chegam às fronteiras italianas em enorme fragilidade.
Do outro lado do Atlântico, o presidente dos EUA também não desmobiliza. No encontro com os jornalistas aquando da visita do presidente português, Donald Trump foi confrontado com o modo como estava a conduzir as políticas de imigração, nomeadamente na fronteira com o México. "Não podemos ter uma política de portas abertas", retorquiu para defender a necessidade de promover fronteiras fortes. Ao seu lado, Marcelo fez questão de se manter distante destas teses.
Hoje de Bruxelas esperam-se boas notícias de um Conselho Europeu que prometeu medidas pragmáticas em relação à imigração. Todavia, desta importante reunião não sairão soluções miraculosas. Porque grande parte dos líderes que integra esta cimeira está bem consciente de que no velho continente progridem forças da extrema-direita cujo discurso xenófobo angaria cada vez mais seguidores. A geometria não será de fácil domínio, havendo, pois, vários cálculos a fazer. E, nesse tempo, à deriva no mar, dentro de frágeis barcos, continuam centenas de pessoas a arriscar tudo para sobreviver. É isso que nos deveria incomodar. Muito.
* PROF. ASSOCIADA COM AGREGAÇÃO DA UMINHO