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A tendência da sinistralidade rodoviária, nos países desenvolvidos, é seguir uma curva descendente. Mesmo aumentando o número de veículos em circulação, a tecnologia e as alterações na rodovia explicam com facilidade essa evolução. Não pode deixar por isso de surpreender que, como ontem ficámos a saber nas mais recentes estatísticas de sinistralidade, estejamos com resultados mais trágicos do que há uma década – contrariando os resultados na generalidade dos países europeus.
De janeiro a maio deste ano houve um aumento de 4,7% nas mortes na estrada, de 20,3% no número de feridos graves e de 18,5% nos ligeiros, em comparação com o mesmo período de 2014. O facto deveria merecer sobressalto e aturadas análises nos media. Pelo contrário, o tema recebeu pouca atenção mediática e não dei conta que nenhum líder partidário tivesse sido questionado sobre estes dados.
Esse é desde logo o primeiro problema do tema da segurança rodoviária: não tem “sex appeal” nem mobiliza os atores políticos. Durante décadas aconteceu o mesmo à proteção civil, mas tivemos Pedrógão Grande, que tornou impossível continuar a ignorar essa área. Se pesquisarmos o programa do Governo, encontramos escassas referências à sinistralidade e vagas nos seus objetivos: pretende-se apenas inverter “uma trajetória de abrandamento da convergência com a média europeia”.
Numa sequência em cadeia, os responsáveis pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária têm habitualmente pouco peso político (quantos portugueses saberão nomear o seu presidente?) e há igualmente pouca pressão e dinamismo por parte das associações do setor e da sociedade em geral. Parecemos aceitar como natural que todos os anos morram várias centenas de portugueses em acidentes, que esta seja a maior causa de morte em crianças e jovens, que milhares de feridos graves sofram lesões irreversíveis. Até quando?