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A literacia digital nunca foi tão crucial como nos dias de hoje, especialmente em épocas de grande afluência às compras online, como a Black Friday. Num mundo cada vez mais digital, os consumidores precisam de ter ferramentas e conhecimentos adequados para navegar no universo das compras pela Internet, de forma segura e consciente. No entanto, em Portugal, este é um desafio que continua a expor milhares de pessoas a riscos como fraudes e burlas, algo que o Portal da Queixa acompanha de perto todos os anos, especialmente durante este período.
De acordo com os últimos dados disponíveis no Índice de Digitalidade da Economia e da Sociedade (IDES), Portugal continua a enfrentar dificuldades nesta área. Embora tenhamos subido para a 15.ª posição entre os países da União Europeia em termos de digitalização, a verdade é que a literacia digital dos cidadãos está longe de ser satisfatória. Este indicador reflete uma realidade preocupante: uma parte significativa da população portuguesa não possui sequer competências digitais básicas. E não é difícil perceber porquê. Há desigualdades regionais claras, uma enorme lacuna entre gerações e até limitações de acesso à Internet que continuam por resolver. Enquanto sociedade, não podemos aceitar que a literacia digital seja um privilégio, quando deveria ser um direito.
Ora, esta questão não é nova, nem desconhecida para os decisores políticos. Durante a última campanha eleitoral, o atual governo liderado por Luís Montenegro prometeu reforçar a literacia digital em várias frentes, nomeadamente através de programas educativos e campanhas de sensibilização para capacitar os cidadãos. No entanto, a realidade mostra-nos outra coisa. Estas promessas não passaram do papel, e os consumidores continuam desprotegidos num mundo digital cada vez mais complexo. Como fundador do Portal da Queixa, esta inação, não só, me preocupa profundamente, como também me revolta. A falta de compromisso das entidades responsáveis está a perpetuar um ciclo de vulnerabilidade que coloca milhares de pessoas em risco, especialmente em épocas de consumo elevado como esta.
Enquanto plataforma de referência na proteção dos consumidores, decidimos agir. O movimento #NãoSejasPato nasceu para responder a esta falha sistémica, oferecendo uma solução prática e eficaz para ajudar os consumidores a fazerem compras online de forma segura. Esta iniciativa, que já conta com várias edições, ganhou este ano uma nova dimensão com a introdução de uma ferramenta inovadora, baseada em Inteligência Artificial, que permite verificar a confiabilidade de marcas e sites antes de comprar. Ao democratizarmos o acesso a esta tecnologia, estamos a dar poder aos consumidores, colocando informação de qualidade nas suas mãos e ajudando-os a tomar decisões informadas.
Enquanto isso, as marcas também têm um papel fundamental neste processo. Não podemos continuar a ignorar que a literacia digital é um fator decisivo para o crescimento
sustentável do mercado online. Sem consumidores confiantes e capacitados, o potencial do comércio digital será sempre limitado. As empresas precisam de ser mais participativas e interventivas, assumindo a responsabilidade de educar e apoiar os seus clientes.
No final, o que está em causa é muito mais do que a proteção individual de cada consumidor. Estamos a falar de um tema central para o desenvolvimento económico, a inclusão social e a confiança no mercado digital. Não podemos permitir que a literacia digital seja vista como um tema secundário ou opcional. É hora de agir, de transformar promessas em ações concretas e de garantir que todos os cidadãos tenham as competências necessárias para navegar no mundo digital com segurança e confiança. É um desafio coletivo, mas também uma obrigação moral de todos os que têm poder e responsabilidade.