INEM tem mais eficiência a salvar a sua imagem do que vidas humanas
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Vivemos um episódio lastimável que poderia parecer cómico se não fosse trágico: enquanto os serviços de emergência do INEM falham em atender adequadamente a população, o governo demonstra uma competência singular em gerenciar o quê? A sua própria imagem, claro. E assim, mais uma vez, vemos uma dança cuidadosamente coreografada de desculpas públicas, onde a ministra Ana Paula Martins assume a responsabilidade pela caótica gestão de recursos do INEM durante a greve, potencialmente relacionada à morte de 11 pessoas. "Assumir responsabilidade" parece uma frase importante – mas uma responsabilidade sem consequências é apenas teatro.
A cada nova crise de gestão que se acumula, o governo exibe a sua capacidade ímpar de virar a atenção do público, mas desta vez, a estratégia beira o absurdo. Em vez de realmente enfrentar a problemática relação com os profissionais do INEM, cuja greve escancarou a falta de diálogo e a degradação das condições de trabalho, optaram pela tática do controlo de danos. Por que resolver o problema real quando é mais fácil blindar a reputação? É claro que é mais conveniente apagar o fogo das críticas do que reconhecer os efeitos devastadores de uma gestão descomprometida com a qualidade do atendimento de emergência.
Quando os números das queixas sobre o INEM disparam em mais de 40%, como revelado pelo Portal da Queixa, a resposta dos responsáveis não é buscar soluções. Pelo contrário, decidem simplesmente sair da plataforma para escapar do escrutínio público. Esse pedido para remover o INEM da plataforma é emblemático: revela uma preocupante desconexão com as demandas da população, que quer um serviço de emergência eficaz e acessível, não mais desculpas e fugas de responsabilidade.
Para o governo, parece que a situação de crise foi sentida de forma mais "urgente" no impacto à sua imagem do que nas vidas de cidadãos que realmente precisavam de ajuda. Em vez de propor uma revisão estratégica das condições de trabalho e comunicação com os profissionais do INEM, investiram na já desgastada fórmula de assumir responsabilidades – um gesto inócuo e, convenhamos, sem sentido prático. A reação apressada, quando o caso ganha a imprensa, expõe a fragilidade de uma gestão que só se movimenta quando confrontada com a manchete do dia. Essa não é a responsabilidade que a população precisa.
Ao pedir a remoção do INEM do Portal da Queixa, o governo assina em baixo a sua prioridade: salvaguardar a imagem do organismo e tentar evitar as críticas, mesmo que isso signifique desconsiderar o crescente número de queixas e relatos de mau atendimento e recusa de socorro. Esta é a verdadeira tragédia: um serviço essencial que vira as costas para a sua missão e um governo que gira o foco do problema para onde menos importa.
Portanto, está na hora de inverter essa narrativa. Não se trata de controle de danos ou de "assumir responsabilidades" como se fosse um chavão para tranquilizar as manchetes. É urgente uma mudança de postura, um compromisso com a transparência e uma reforma que vá além da aparência.