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A obesidade é um problema sério que antecede uma panóplia de doenças graves. É uma verdade “de la Palisse”. A história mostra que a indústria farmacêutica tem lançado imensos produtos para combater o distúrbio, mas, sinceramente, não me recordo de grandes resultados. Daqueles que fazem verdadeiramente a diferença, como acontece na bola quando alguém decide um jogo com um golpe de magia. Magia é, portanto, coisa difícil de encontrar na área da obesidade, mas nos tempos mais recentes começamos a ouvir falar de injeções milagrosas que ajudam a emagrecer, com percentagens de sucesso que podem ir até aos 30%.
Até aqui, tudo certo e apelativo, mas acontece que atualmente a famosa medicação só é comparticipada pelo Estado se for prescrita a um doente com diagnóstico de diabetes. O tema é controverso e perverso, pois o que nos estão a dizer (ao médico e utente) é que é preciso estar ainda mais doente (com obesidade e diabetes) para, finalmente, ter uma ajuda efetiva do Estado no combate à obesidade. Falamos de tratamentos mensais que variam entre 200 e 300 euros. Ora, naturalmente inacessíveis a um grande lote de utentes, num país onde não há travão às rendas e onde trabalhar e ter salário não significa, nos dias de hoje, ter garantia de qualidade de vida.
Se a obesidade é uma doença altamente predominante e ainda um caso de estudo, que abre a porta a outras adversidades, faz algum sentido que seja preciso esperar que mais complicações apareçam para que o medicamento seja comparticipado? A aposta na prevenção não iria resultar na antecipação de outros quadros e diagnósticos mais graves e, no fundo, significar uma poupança aos cofres do Estado?
No meio da equação, se nada mudar, o mercado paralelo, a “web” negra, onde tudo acontece sem regras, agradece e alimenta um expediente que, em última instância, se apodera do desespero de utentes, que arriscam um método milagroso sem qualquer vigilância clínica. Nos últimos tempos, há relatos de doentes que adquirem o produto, recorrendo a esse mercado, o que pode levantar um problema de saúde pública, pois o tratamento deve ser acompanhado da supervisão médica. Fica o alerta.