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Haverá um tempo para exigirmos respostas e discutirmos em profundidade as questões técnicas e estratégicas que explicam o apagão em Portugal e Espanha. No imediato, o que salta à vista é a total fragilidade na gestão da informação prestada à população. O ambiente de pré-campanha contamina inevitavelmente este debate, mas a avaliação é crucial porque espelha muitos dos erros que se repetem, incidente após incidente, no país.
Um dos princípios básicos da comunicação de crise é a regularidade e clareza na informação. Pelo contrário, o que tivemos segunda-feira foi um longo período de ausência, tanto dos responsáveis políticos (que ainda por cima nas declarações iniciais entraram em dissonância) como da Proteção Civil. Basta vermos o exemplo da vizinha Espanha: mais momentos de intervenção e mensagens operacionais muito concretas sobre os comportamentos que os cidadãos deveriam adotar.
Luís Montenegro bem pode assegurar que a Proteção Civil foi essencial na articulação da resposta, particularmente relevante no plano municipal. O que se esquece de avaliar é que informar a população e orientar ações é parte essencial dessa missão. Não admira que continuemos a assistir a comportamentos irrefletidos como o assalto a bens essenciais, ou a utilização indevida de linhas de emergência. A nossa falta de cultura de Proteção Civil é crónica e alterar o estado de coisas nunca está nas prioridades dos programas eleitorais dos partidos.
Esteve bem o primeiro-ministro ao apontar a rádio como o meio mais operacional, a voz a que tantos portugueses recorreram para se situarem no meio do caos. Esteve mal ao não usar melhor as potencialidades do canal que em esforço contínuo fez tudo para dar respostas onde sobravam interrogações. De resto, já não há adjetivos para qualificar as falhas do SIRESP quando mais precisamos dele. Como sublinhou o chefe do Governo, as falhas não são novas. O que torna ainda mais inadmissível a incapacidade de as resolver.