A sensação mais forte sob a peste do século XXI é a de falta de proteção.
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E, por mais estranho que pareça, grande parte desta proteção que nos falta tem a ver com questões de governança.
A tibieza na construção de uma verdadeira União Europeia mostra a sua verdadeira consequência na total incapacidade de reposta coordenada a qualquer problema realmente importante, da crise da dívida à pandemia do novo coronavírus.
Que vemos por toda a Europa? Cada um a tratar de si o melhor que pode e sabe num quadro de nações soberanas como se estivéssemos em pleno século XIX.
É confrangedor verificar que a única resposta da União até agora tenha sido a criação de mais um fundo, desta vez de 25 000 milhões de euros que, para variar, há de ter os mecanismos administrativos prontos para a respetiva aplicação uns valentes meses depois das reais necessidades de apoio.
Do lado oposto da escala valia a pena refletir que talvez um nível de governação regional experimentado pudesse lembrar-se a tempo e horas que é no Norte do país que se situa o maior conjunto de empresas produtoras de calçado e que muitas centenas dos seus responsáveis e técnicos peregrinam a Milão, nesta altura do ano, para participar na MICAM.
Sabendo disto teria a obrigação de estar especificamente alerta para estes fluxos e suas consequências e poderia tomar medidas, conjugadas com o poder nacional, claramente mais eficazes do que aquilo a que assistimos.
Talvez alguém por aqui se tenha lembrado deste problema e talvez até tenha procurado alertar as instâncias centrais, mas o poder do conselho e a magistratura da influência nunca funcionaram de baixo para cima.
Isto para não falar da resposta em termos de rede de cuidados de saúde, otimização da capacidade instalada, controlo do cumprimento do isolamento social, definição dos perímetros de isolamento.
Ou ainda ninguém se lembrou que talvez valesse a pena conter a mobilidade de e para os concelhos do Vale do Sousa?
*Analista financeira