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As duas principais vias de distribuição do trânsito no Porto e concelhos vizinhos estão há décadas entregues a si próprias. O falhanço é retumbante e recai sobre os protagonistas políticos das várias escalas - municipal, metropolitana e nacional - e de várias cores partidárias. Essa incapacidade repercute-se diariamente num purgatório rodoviário para milhares de penitentes sem fé. Ela é também o sinal do definhamento político de um território que está seco de figuras audíveis a Sul, com a exceção de Rui Moreira e António Cunha.
A Infraestruturas de Portugal (IP), que tutela a VCI e a Estrada da Circunvalação ao estilo colonial, não faz outra coisa senão empatar. E empatar tem sido igualmente a marca dos sucessivos ministros com a pasta relevante, apesar de saberem ser um imperativo desviar trânsito da VCI e integrá-la harmoniosamente no tecido da cidade. A médio prazo, isso implicará, previsivelmente, uma nova circular entre a VCI e a A41, modelada para escoar o trânsito de atravessamento. Até lá chegarmos, seria ajuizado remover portagens da A41 e introduzi-las na VCI. Inexplicavelmente, o diploma do PS aprovado há tempos na AR, que isenta de portagens um conjunto de ex-scut, deixou incólume a A41.
O atual Governo anunciou uma solução a breve trecho. Oxalá. Desde que haja consciência de que solucionar a VCI não soluciona de uma assentada o excesso de carros. Aliás, a VCI tem servido de álibi para a inação da Câmara do Porto noutras frentes. É verdade que as obras em curso, sendo imprescindíveis, limitam a capacidade de agir sobre o trânsito. Não é menos verdade que a inação já era a regra antes do início das mesmas. De resto, a governação da cidade só tem mexido no trânsito a medo, aplicando discretos beliscões.
Quanto à Circunvalação, “nem estrada, nem avenida, nem rua, nem circunvalação de nada”, mas “somatório de acasos velhos e novos”, como a retratou Álvaro Domingues, os seus 16 km parecem não comover ninguém. Nem mesmo esse plano de lágrima fácil que é o PRR. Mais valia chamar-lhe Estrada da Circuncisão.
Resta perceber como foi possível desaproveitar-se um tão longo período de circunstâncias excecionais - políticas e financeiras - para remediar estas feridas rodoviárias.