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O problema começou numa noite de Abril, há anos: eram 20h00 e alguém bateu à porta do armazém. Bateram com força, com o punho fechado. E o que fazia dentro do armazém o senhor José? Negócios, sem dúvida. Mas só negócios? Sem dúvida que não.
O senhor José é bancário e estava lá, oficialmente, a mediar um negócio de leasing. Estava ele, estava a espanhola dona do armazém, e dois potenciais clientes (homens que não sabiam onde se estavam a meter).
O primeiro cliente, um vendedor de café, de bigode merceeiro, visitava as instalações para ver se as comprava. Explicou no tribunal que não conhecia ninguém entre os que lá estavam e nenhum dos que entraram.
Começam a bater e entra de repente uma senhora porta adentro e começa a gritar sua puta, sua vaca, onde é que está o meu marido, minha mulher não é, disse este senhor, e ela começa a tentar assim bater-lhe e depois vem um senhor mais novo, de pé no ar, e acerta na senhora que estava a tentar bater, que pelos vistos era a mãe.
O outro cliente, um empresário melhor explicado, disse que não viu propriamente agressões. Só uma mulher aos gritos a tentar bater no senhor José. Nesse momento, o empresário concluiu “eh pá, não há condições, vou deixar um cartão meu…” e foi-se embora.
De qualquer modo, antes da briga já tinha desistido do negócio. Ia negociar com aquela senhora espanhola. Mas o local não me interessava, não tinha lugar para os carros…
O senhor José, baixo, de óculos, careca, está no tribunal acusado de agressão violenta à ex-mulher: segundo a acusação, levou-a para a rua, deu-lhe murros, pontapés, e empurrou-a contra a parede e contra o carro. O senhor José diz que só se tentou proteger das estaladas e joelhadas, segurando-lhe os braços. Proteger-se dos ciúmes negros de uma mulher.
Quem quer que atendesse o telefone no banco, ela dizia que eu era um vigarista e um ladrão…
Mas isso foi depois, no divórcio. Estiveram casados cinco anos. Ele recorda os gritos contra a espanhola:
Vigarista, espanhola, vai para a tua terra. Onde é que está o meu marido, onde é que está o meu marido?!
O senhor José disse no tribunal que se dirigiu a ela “no sentido de que não fizesse escândalo” e para discutirem as coisas lá fora. Disse também que, no exterior do armazém, foi atacado pelo filho dela, que lhe pisou os óculos. E que há factos que provam a má fé da ex-mulher. Por exemplo, ela nesse dia vinha de uma operação aos calos e, dias antes, tinha operado os maxilares no dentista. Estava mal dos pés e fraca dos dentes. Só que, depois, colocou as mazelas das operações como consequência dos golpes dele, e não como um processo de recuperação natural.
Retirei a queixa, porque ela me disse que já estava tudo bem.
E seis meses depois, a dez dias do fim do prazo, ela apresenta a queixa.
- Mas o senhor, perguntou-lhe a advogada, prejudicado assim a nível profissional… por que é que retirou a queixa?Por parvoíce, pelos vistos.
Ou, arrisco eu, má consciência. Agora, no tribunal, a ex-mulher falava no rolo fotográfico que encontrou e mandou revelar, nos bilhetinhos que fotocopiou. Não disse o que continham, mas eram fotografias e bilhetinhos de dois amantes. O filho e a então namorada do filho (já se separaram) confirmaram os murros e pontapés do senhor José.
Ele agarrou-me nas mãos e disse: “Eu ainda hoje mato aqui alguém!”, contou a rapariga.
E chegou a matar?
Na minha presença não. Se depois matou, não sei.