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Estou um bocadinho farto de Guardiola. Reconheço-lhe qualidade e competência, mas, de certa forma, conseguiu estragar o futebol, com aquela mania do futebol de posse, que, muitas vezes, só me dá sono, mas que excita a maioria dos comentadores e jovens candidatos a treinadores. Por isso mesmo, obviamente, gostei muito da forma como o Man. City foi vergado em Alvalade, por um Sporting, naturalmente, inferior mas que, naquela noite, mereceu a estrelinha que tanto trabalho dá para encontrar no futebol e na vida. Há sempre aqueles que nascem no berço de ouro e Guardiola tem tido a felicidade de trabalhar com os melhores nas melhores equipas. Queria vê-lo a ganhar títulos, por exemplo, no Farense ou Estrela da Amadora, ou no Núcleo Desportivo do Bairro do Bom Pastor, clube onde dei os primeiros pontapés na bola e fiz as feridas que se colavam aos pijamas.
Apesar do percurso como futebolista, dou mais valor à ascensão de um Ruben Amorim, que até há bem pouco tempo estava a tirar do próprio bolso para treinar o Casa Pia, do que ao trajeto de Guardiola. Valorizo quem sobe a pulso, que trabalha com infraestruturas débeis, sem balneários para tomar banho ou campos de luxo para desenvolver as ideias.
Há pouco tempo, o mister Manuel Machado, com uma carreira de muito digna ao serviço de clubes de média dimensão, tocou na ferida, afirmando que os currículos, a longevidade e a experiência deixaram de ter valor e que o mercado de treinadores está aberto aos inexperientes, que estão, grosso modo, subjugados a um conjunto de interesses e empresários, ficando reféns. É verdade. Por isso, a vida está difícil para aqueles treinadores que ainda querem pensar pela própria cabeça. E isso terá reflexos no futuro, na própria evolução do futebol português. Tenho saudades dos treinadores à moda antiga, daqueles que morrem com as suas ideias e assumem a responsabilidade.
*Editor-adjunto