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Há limites para a decência e todos sabemos quais são, incluindo este: vigilantes de transportes públicos não podem espancar pessoas.
A violência tem de ser possibilidade exclusiva das forças de autoridade e, note-se bem, que seja possibilidade a ser usada realmente apenas e só quando houver devida justificação.
A cidade e os seus altos representantes mantiveram-se inexplicadamente calmos e mudos sobre esta barbaridade chocante que (n)os devia sobressaltar. Não há, não pode ter havido, justificação para que uma mulher tenha sido tratada daquela maneira, e com requintes de malvadez racista, que acompanha sempre os medíocres.
O "vai apanhar o autocarro à tua terra" é um clássico gritado pelos ignorantes, que pensam serem deles as cidades que são de todos, como são sempre as melhores cidades. E uma cidade melhor como o Porto, que gosta de se anunciar moderna e repleta de outros pirosos predicados, mata-se um pouco de cada vez que coisas destas acontecem, sem que haja uma reação de quem nunca se devia calar perante a indecência.
É um silêncio que em nada se distingue do vociferar das conversas de café e dos baixos gritos das redes sociais, que se alimentam da latente falta de tolerância e que aos poucos vão minando as comunidades.
A responsabilidade tem as suas exigências. Não basta aparecer só quando a luz tudo ilumina e faz brilhar sem esforço. É preciso também saber que não se foge à difícil e suja tarefa de resgatar a nobreza ao recanto mais obscuro da natureza humana.
* JORNALISTA