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Não vou reproduzir nenhum dos comentários. Dar-lhes palco é precisamente o que não merecem. Mas a gravidade das reações racistas suscitadas por uma publicação da Federação Portuguesa de Futebol no X justifica reflexão e teria seguramente provocado mais barulho se envolvesse jogadores de outro escalão que não os sub-17. Sob uma foto de quatro jogadores negros repousou toda uma panóplia de abusos ilustrativos do tamanho que o ódio vai ganhando no espaço público.
Sendo expressão da emotividade e espelho da sociedade, o desporto reproduz tendências sociais. O relatório de 2024 da Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto comprova um aumento das queixas de racismo, mas a maioria dos casos resulta em arquivamento. Em março, 38 organizações reivindicaram em carta aberta “ações efetivas” contra o fenómeno, pedido que caiu em saco roto.
Temos escrito muito sobre a intolerância e sobre as causas do ressentimento quando ele entra pela política e se senta na Assembleia da República. Só que a política está em tudo, dos balneários desportivos aos bancos da escola. A política está na forma como nos relacionamos e agimos perante os outros. E estamos cada vez mais ensimesmados e incapazes de reconhecer alguém que não nos pareça espelho.
Não sei se basta rebentar as bolhas em que tanto estamos enfiados. Talvez seja mesmo preciso partir espelhos, para conseguirmos desviar o olhar e reconhecer que a diversidade nos acrescenta e enriquece. E punir comportamentos que não podem ser normalizados. O racismo e o ódio são crime. Sem reticências.