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Obrigada a desdizer-se poucas horas depois de ter admitido dialogar sobre o direito à greve nas forças de segurança, a ministra da Administração Interna foi além do comunicado oficial e tentou justificar-se, nos bastidores, sobre as suas declarações. Dizem as fontes próximas de Margarida Blasco que o objetivo era criar um clima de proximidade na negociação com os sindicatos. O erro não teria estado na mensagem, mas na má interpretação a que foi sujeita.
Não houve equívocos e nem são sequer novos os momentos de desacerto, ausência e total ineficácia política por parte da ministra. E o problema não está na precipitação e embaraço causados por Margarida Blasco ao Governo. O que se torna realmente difícil é perceber o seu pensamento estratégico para as forças de segurança, depois de já ter dito sobre elas uma coisa e o seu contrário.
Entende-se o calculismo de Luís Montenegro a conter os críticos internos que pedem a substituição da governante, uma vez que qualquer saída ou remodelação agravariam a ideia de fragilidade com que o Governo foi carimbado desde a sua origem. Mas se a Administração Interna é em qualquer momento uma pasta difícil, torna-se ainda mais movediça num terreno minado pela presença ostensiva do Chega.
Na sua primeira entrevista, em julho, a titular da Administração Interna chocou os sindicatos ao referir a necessidade de retirar a “fruta podre” do “grande cesto” que são as polícias. Claro que houve inabilidade nas declarações, mas total acerto na importância de investir em formação e afastar qualquer traço de xenofobia e abuso na atuação das autoridades. Só que a defesa de uma Polícia de confiança, essencial para o país e que se livre das tentativas de intrusão da extrema-direita, exige clareza e força política. Qualidades que manifestamente faltam a Margarida Blasco.