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Estive este domingo nos jardins de Belém. Uma multidão passeou comigo numa tarde onde o Sol resolveu oferecer-nos mais uma oportunidade, como se tivesse pressentido que era uma primeira despedida de um presidente que gosta genuinamente de pessoas, de estar com elas, de as abraçar. Os meus olhos encontraram-no duas ou três vezes enquanto lá estive numa Festa do Livro que Marcelo quis que fosse uma celebração de inquietude, de debate e tolerância, de apologia da dúvida e da pergunta, de combate às certezas polarizadoras. Vi-o a passear entre os portugueses que o abordavam em cada centímetro. Senti-o cansado, um pouco melancólico talvez, mas tranquilo e disponível para dar a cara, para estar com as pessoas, para delas se começar a despedir. Antes de sair à francesa, ainda o vi uma última vez. Estava numa barraquinha a pedir um café ou um chá ou qualquer outra coisa, tinha uma imensa fila à espera para o abordar, uma fila maior do que a de qualquer escritor convidado. Tive saudades, por antecipação, de um homem que, com erros e quedas, foi diferente de todos os outros habitantes de palácios, um português que gosta de gostar, que não esconde palavras, sorrisos ou abraços, mas que, ao mesmo tempo, é penitentemente solitário. Um presidente absolutamente sozinho e absolutamente acompanhado por gente que, na sua companhia, se sente em casa. Um presidente que nos faz sentir parte de uma mobília comum, que nos faz sentir portugueses de primeira.