Sem com isto querer ferir ninguém ou fazer de conta que não percebo o que está por detrás, estou simplesmente farta de ver anúncios com a promessa de que este ano afinal sempre haverá Natal concretizado num peru fumegante ou numa família contente por poder manter a tradição... do bacalhau.
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Não se trata sequer de uma fúria confessional. Sim, sou católica apostólica romana, mas não sinto qualquer necessidade de me bater pela minha Fé contra qualquer outra neste país e neste tempo.
Trata-se apenas de uma desorientação como quem faz um caminho na expectativa de uma revelação e lhe começa a parecer que a meta é, afinal, uma espécie de feira popular.
Os hipermercados têm de vender peru e o azeite Gallo faz anúncios muito bonitos, mas é árida e dolorosa a perceção de que um Acontecimento de impacto planetário com 2020 anos de história seja lembrado com a implacável ausência do seu núcleo: Jesus Cristo, Deus incarnado!
Podemos acreditar ou não acreditar, podemos sentir ou não, mas não podemos esquecer e muito menos fazer substituir por restos consumistas uma explosão de alegria universal que vem juntando homens e mulheres de boa vontade há vinte séculos.
A dimensão familiar desta Festa existe e é boa. Mas existe para celebrar ou, para outros, por causa deste Acontecimento. Não é um fim em si.
Curiosamente, este ano em que talvez o Presépio não fique tão coberto por fitas e laços, cartões ou plástico, seria uma altura ideal para fazer sobressair o Deus dos cristãos, a Sua mensagem e a Sua promessa. Ou até mesmo a profunda influência que exerceu nesta nossa Europa.
É, ou devia ser, pelo menos uma exigência cultural.
Pergunto-me se a Igreja não deveria combater com as mesmas armas. Comunicando insistentemente, fora dos locais de culto, o que de facto está em causa. Criativamente, se for o caso mas, sobretudo, positiva e firmemente.
Manter uma posição de recato pode começar a ser entendido, nestes nossos dias, como uma defesa institucional que parece confirmar a profecia de Ratzinger, quando dizia que haveria a tentação de reduzir os sacerdotes a meros "assistentes sociais" e a própria obra a uma mera presença política.
*Analista financeira