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Em teoria, o princípio de proteção é inovador e a chamada “via verde” para a imigração assegura contrato de trabalho, seguro de viagem e de saúde, alojamento “adequado” (seja qual for a tradução concreta da expressão vaga) e um plano de formação profissional acompanhado de aprendizagem da língua para todos os trabalhadores. Boas intenções que sustentam as promessas de um humanismo nunca visto na integração de estrangeiros.
Vamos admitir que, apesar dos muitos detalhes em aberto, todos estes mecanismos funcionam e até os prazos de resposta previstos para esta via rápida (no máximo 20 dias) vão ser cumpridos. Nem por isso deixam de existir muitos fatores que contrariam o discurso de foco nos direitos do imigrante, argumento que tem sido usado para justificar o fim do regime da manifestação de interesse.
A “via verde” exige escala, seja por via das associações patronais, seja na dimensão das empresas para que possam aceder individualmente. Deixa de fora muita da economia real e obriga, por outro lado, à existência de intermediários que façam a ponte entre procura e oferta. Inevitavelmente, acaba por criar novas formas de desigualdade para quem não se enquadra em nichos específicos. E evidentes desequilíbrios entre quem consegue os atalhos e quem enfrenta problemas crónicos, até hoje por resolver.
Temos dificuldades sérias, administrativas e sociais, no acolhimento de estrangeiros. Elas não podem ser ignoradas, tal como não o podem ser os riscos das perceções que vão sendo construídas em torno do tema – porque as perceções contam muito em sociedade. Mas as políticas de imigração devem colocar no seu centro as pessoas e os seus direitos, não os interesses das empresas. Não sendo assim, continuamos a abrir a porta apenas a quem interessa mais à economia, fingindo que o fazemos em nome do humanismo.