Pensar além da legislatura: um desígnio nacional para a Ciência e Ensino Superior
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Sempre que um novo programa de governo é apresentado, a atenção concentra-se, e bem, nas medidas propostas e nas metas a alcançar. No entanto, em áreas estruturantes como a Ciência e o Ensino Superior, a lógica de curto prazo é manifestamente insuficiente. Os efeitos das decisões tomadas hoje só serão sentidos a médio e longo prazo.
Por isso, mais do que medidas pontuais, é necessário delinear as linhas estratégicas que possam guiar o setor no futuro. O conhecimento e a capacidade para inovar são a base de uma economia mais próspera, mas essa base precisa de alicerces sólidos e consensuais.
Há uma dificuldade flagrante. Mesmo que o horizonte temporal de uma legislatura seja insuficiente para transformar o sistema científico e de Ensino Superior, nenhum governo dispõe de mais tempo. Mas todos os governos dispõem de tempo suficiente para promover um debate público alargado quanto aos pilares estratégicos para o futuro deste setor.
Temas como a autonomia institucional, o financiamento, as infraestruturas, a desburocratização, a internacionalização, a estrutura do sistema científico ou a valorização das carreiras são demasiado importantes para serem reféns do imediato. Conseguir consenso quanto a estes temas, reconhecendo o valor do conhecimento e da qualificação, resultaria em mais que uma base sólida para pensar o futuro: dar-nos-ia um grau de estabilidade que permitiria às instituições investir com confiança em projetos transformadores, próprios de cada instituição e adaptados às suas condições – sem receio que uma reviravolta política lhes mude subitamente o guião.
O sistema nacional de ciência e Ensino Superior consome recursos, como outros setores importantes para o país – mas o país tem ao seu dispor poucos investimentos de maior retorno e impacto. Pensar a ciência e o Ensino Superior para a próxima geração não é um luxo. Tal como a sustentabilidade, é um ato de justiça intergeracional.
Vale a pena pensar nisso.