A insistência do presidente do F. C. Porto sobre a necessidade de retomar a assistência aos jogos nos estádios tem um fortíssimo fundamento económico e social.
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A ligeireza com que os nossos responsáveis políticos tratam do tema revela apenas ignorância e total falta de atenção, desde logo às orientações expressas da Comissão Europeia.
No "Position Paper" publicado pela Comissão sobre o impacto da pandemia no setor do desporto pode ler-se:
- o setor do desporto corresponde, em termos de atividade económica na EU, ao total combinado dos setores agrícola, pescas e florestas com um PIB associado de 279,7 biliões de euros;
- o desporto é trabalho intensivo, o que quer dizer que o emprego que gera é superior ao seu peso relativo no PIB; na UE emprega 5,67 milhões de pessoas;
- isto quer dizer que a cada 47 euros gerados 1 euro é gerado pelo setor do desporto e a cada 37 empregos, um é gerado pelo setor do desporto;
- "Sendo assim, os governos deviam prestar especial atenção à proteção do emprego no desporto enquanto indústria com um impacto forte na economia. (...) Os benefícios sociais associados ao desporto contribuirão de forma significativa para a recuperação das comunidades durante e depois da crise".
A medida que o presidente do F. C. Porto reclama, uma assistência segura e controlada aos jogos nos estádios, é absolutamente inquestionável sobretudo quando comparada com outros eventos, como touradas ou concertos.
Num país normal estaríamos, aliás, já muito para lá desta discussão.
Estaríamos, como a União Europeia recomenda, a debater como podem os fundos estruturais ser redirecionados para ajudar o setor a preservar o emprego; como podem ser aliviadas as regras das ajudas de Estado por forma a garantir um alívio fiscal temporário ao setor; como podem conceder-se empréstimos especialmente desenhados para sustentar a tesouraria dos clubes; a alargar as elegibilidades para que o setor possa ter apoio (designadamente dos fundos estruturais) para futuros projetos de investimento.
Só que não...
*Analista financeira