Pode o setor têxtil ser exemplo na transição ecológica da indústria?
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A resposta curta é: pode. Apesar de ter nome em inglês, be@t - bioeconomy at textiles é o projeto português que justifica essa resposta, pois tomou o conceito de circularidade como ponto de partida para reconverter a indústria têxtil e de vestuário, tida como das mais poluentes.
O be@t, em curso desde 2022, conjuga a busca de práticas sustentáveis, tanto na produção como no consumo, para tornar o têxtil e vestuário mais amigo do ambiente e, ao mesmo tempo, do Produto Interno Bruto ao estimular a economia. Os três anos de desenvolvimento fizeram do projeto um fenómeno disruptivo no setor, que começa a servir também como exemplo transversal à indústria para que se atualize e responda aos desafios contemporâneos de sustentabilidade ambiental e económica.
Com quase 60 parceiros de diversa dimensão e origem (empresas, universidades, centros tecnológicos, etc.), o be@t assenta num consórcio multidisciplinar coordenado pelo Citeve, que vai além das fronteiras setoriais e está a assumir o papel de laboratório para essa transformação. Isto porque, em vez de mudanças pontuais e sobretudo reativas a momentos de crise, introduz uma nova forma de estar logo no que toca a matérias-primas, revertendo a tradicional dependência das que têm origem fóssil e levando à adoção de sistemas de valorização de recursos biológicos antes descartados (eram considerados lixo!) por setores como o florestal e o agroalimentar.
Tal abordagem não se limita a substituir materiais: reimagina processos, desde a origem dos produtos às fases de reutilização e reciclagem, ancorando toda a cadeia de valor em princípios de circularidade e regeneração. E, com essa filosofia subjacente, chega também ao consumidor para sensibilizá-lo sobre novos comportamentos e cimentar a responsabilidade coletiva pelo ambiente.
Daí que o seu impacto não se esgote no têxtil e vestuário. A inovação, as soluções de rastreabilidade, ecoengenharia e novos modelos de negócio que privilegiam a reparação e a reutilização estabelecem um precedente viável para qualquer setor disposto a repensar a sua estrutura. Ou seja, o be@t (bioeconomy-at-textiles.com) não é apenas um protótipo isolado por ter apoios do Plano de Recuperação e Resiliência e dos fundos Next Generation EU; é uma metodologia transponível, que pode inspirar setores como os da metalurgia, do plástico ou da construção civil na transição para fórmulas circulares e de baixo impacto ambiental. E assim ajudar a robustecer o tecido industrial português.