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Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou uma avaliação dos sistemas de saúde de 194 países, analisando o acesso das populações a cuidados de saúde. Este estudo baseou-se em indicadores de diversas áreas, como a saúde materno-infantil, a medicina de reprodução, o controlo de doenças infetocontagiosas e a capacidade de resposta dos serviços de saúde. Portugal alcançou a notável classificação de 3.o lugar, empatado com a Alemanha e o Reino Unido. Este reconhecimento é, sem dúvida, um motivo de orgulho nacional, mas também um convite à reflexão sobre o percurso que nos trouxe até aqui.
Chegar a este nível de excelência no acesso universal à saúde não foi obra do acaso. Foi o resultado de décadas de trabalho árduo, decisões estratégicas e dedicação de milhares de pessoas. Reconhecer o mérito de quem construiu este sistema é fundamental. É justo elogiar os dirigentes políticos da saúde dos últimos 40 anos, que, enfrentando inúmeras dificuldades, implementaram políticas que permitiram alcançar este patamar. Contudo, o maior tributo deve ser reservado aos profissionais de saúde que, diariamente, concretizam a prestação de cuidados.
Médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico, auxiliares, entre outros, são os pilares deste sistema. Trabalham incansavelmente, muitas vezes em condições adversas, com dedicação e competência exemplares. Durante a pandemia de covid-19, este compromisso ficou particularmente evidente. Os profissionais de saúde colocaram-se na linha da frente, muitas vezes em situações de risco elevado, para garantir os cuidados necessários à população.
É essencial lembrar que médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde são seres humanos, com direitos e necessidades. Têm vidas pessoais, famílias, amigos, e necessitam de tempo para descansar, estudar e dedicar-se à investigação científica. O seu trabalho é frequentemente desproporcionalmente exigente face à remuneração que recebem e às condições que lhes são proporcionadas.
Exigir que sejam “escravos” do sistema, que abdiquem da sua vida pessoal e que aceitem trabalhar com horas extra sem limites ou condições adequadas, é não só injusto, mas também insustentável. Um sistema de saúde de qualidade depende de profissionais valorizados, respeitados e em equilíbrio, tanto no plano profissional como pessoal.
Celebrar este reconhecimento é justo e necessário, mas deve ser acompanhado de uma reflexão crítica e de um compromisso renovado com os valores de equidade, qualidade e respeito pelos profissionais de saúde. Só assim poderemos garantir que Portugal continuará a ser um exemplo de excelência no acesso universal à saúde.